– Nós nunca vamos conseguir – Zöe disse. – Estamos indo muito devagar. Mas não podemos abandonar o Ofiotauro.
– Mooo – Bessie disse.
Ele nadou ao meu lado enquanto caminhávamos ao longo da margem do
lago. Tínhamos deixado o píer do shopping center bem para trás.
Estávamos nos dirigindo para a Ponte Golden Gate, mas era muito mais
longe do que eu havia pensado. O sol já estava mergulhando no oeste.
– Não entendo – eu disse. – Por que temos que chegar lá ao pôr do sol?
– As Hespérides são as ninfas do pôr do sol – Zöe disse. – Só podemos entrar no jardim delas quando o dia muda para noite.
– O que acontece se chegarmos tarde?
– Amanhã é o solstício de inverno. Se perdermos o pôr do sol esta noite,
teremos que esperar até a tarde de amanhã. E a essa altura, o Conselho
Olimpiano já teria terminado. Devemos libertar Lady Ártemis hoje à
noite.
Ou Annabeth será morta, pensei, mas não falei.
– Precisamos de um carro – Thalia disse.
– Mas como fica Bessie? – perguntei.
Grover parou subitamente.
– Tenho uma ideia! O Ofiotauro pode aparecer em diferentes ambientes aquáticos, certo?
– Bem, sim – eu falei. – Quero dizer, ele estava no Estuário de Long
Island. Então apareceu de repente na água da Represa Hoover. E agora
está aqui.
– Então talvez possamos persuadi-lo a voltar para o Estuário de Long
Island. – Grover disse. – Aí Quíron pode nos ajudar a levá-lo para o
Olimpo.
– Mas ele estava me seguindo – falei. – Se eu não estiver lá, ele saberia para onde está indo?
– Moo – Bessie concordou, desamparado.
– Eu... eu posso mostrar a ele – Grover falou. – Vou com ele.
Olhei fixamente para ele. Grover não era nenhum fã de água. Ele quase
tinha se afogado no último verão no Mar de Monstros, e não conseguia
nadar muito bem com seus cascos de bode.
– Sou o único que consegue conversar com ele – Grover disse. – Faz sentido.
Ele se curvou e disse algo no ouvido de Bessie. Bessie se arrepiou, então fez um som de mugido, contente.
– A bênção da natureza – Grover falou. – Isso deve ajudar com uma
passagem segura. Percy, reze para o seu pai também. Veja se ele nos
garante uma travessia a salvo pelos mares.
Não entendi como eles poderiam de algum jeito nadar de volta para Long
Island partindo da Califórnia. Mas de novo, monstros não viajam do mesmo
jeito que humanos. Já tinha visto muitas provas disso. Tentei me
concentrar nas ondas, no cheiro do oceano, no som da correnteza.
– Pai – falei. – Ajude-nos. Leve o Ofiotauro e Grover em segurança até o acampamento. Proteja-os no mar.
– Uma prece como essa precisa de um sacrifício – Thalia disse. – Algo grande.
Pensei por um segundo. Então tirei meu casaco.
– Percy – Grover disse. – Tem certeza? Essa pele de leão... é realmente útil. Hércules usou isso!
Logo que ele falou isso, percebi uma coisa.
Olhei de relance para Zöe, que estava me observando cautelosamente. Percebi que sabia
quem tinha sido o herói de Zöe – o que havia arruinado sua vida, feito
com que fosse expulsa da família, e nunca tinha sequer mencionado como
ela o ajudara: Hércules, um herói que admirei a minha vida inteira.
– Se eu vou sobreviver – falei. – Não será porque tenho uma capa de pele de leão. Não sou Hércules.
Joguei o casaco na baía. Voltou a ser uma pele de leão dourada,
brilhando na luz. Então, assim que ela começou a afundar entre as ondas,
pareceu se dissolver em luz solar na água.
A brisa do mar levou.
Grover respirou fundo.
– Bem, sem tempo a perder.
Ele pulou na água e imediatamente começou a afundar. Bessie deslizou até o seu lado e deixou Grover segurar em seu pescoço.
– Tenham cuidado – falei para eles.
– Nós teremos – Grover confirmou. – Ok, hum... Bessie? Estamos indo para Long Island. É no leste. Por aquele caminho.
– Moooo? – disse Bessie.
– Sim – Grover respondeu. – Long Island. É essa ilha. E… é grande. Ah, vamos logo.
– Mooo!
Bessie deu uma guinada para frente. Ele começou a submergir e Grover disse:
– Não consigo respirar debaixo d’água! Achei que tinha mencionado!
Glub!
Eles foram para baixo, e esperei que a proteção do meu pai se estendesse para pequenas coisas, como respiração.
– Bom, isso é um problema resolvido – Zöe disse. – Mas como podemos chegar ao jardim das minhas irmãs?
– Thalia está certa – eu disse. – Precisamos de um carro. Mas não tem
ninguém para nos ajudar aqui. A menos que nós, hum, peguemos um
emprestado.
Não gostei dessa opção. Quero dizer, claro que era uma situação de vida
ou morte, mas ainda assim, era roubo, e era a fronteira para que nos
percebessem.
– Espere – Thalia falou. Ela começou a remexer em sua mochila. – Existe alguém em São Francisco que pode nos ajudar. Tenho o endereço aqui em algum lugar.
– Quem? – perguntei.
Thalia retirou um pedaço amassado de folha de caderno e o segurou no alto.
– Professor Chase. O pai de Annabeth.
Depois de escutar as reclamações de Annabeth sobre seu pai durante dois
anos, eu esperava que ele tivesse chifres diabólicos e presas. Eu não
esperava que ele estivesse vestindo boné e óculos de aviação à moda
antiga. Ele parecia tão estranho, com seus olhos esbugalhados através
dos óculos, que todos nós demos um passo atrás no pórtico da frente.
– Olá – ele disse numa voz amigável. – Vocês vieram entregar meus aeroplanos?
Thalia, Zöe e eu nos entreolhamos com cautela.
– Hum, não, senhor.
– Droga – ele falou. – Preciso de mais três Sopwith Camels.
– Certo – eu disse, ainda que não tivesse ideia do que ele estava falando. – Somos amigos de Annabeth.
– Annabeth? – Ele se empertigou como se tivesse recebido um choque elétrico. – Ela está bem? Alguma coisa aconteceu?
Nenhum de nós respondeu, mas nossas expressões devem ter dito a ele que
algo estava muito errado. Ele tirou seu boné e os óculos. Ele tinha
cabelos cor de areia como Annabeth e intensos olhos castanhos. Ele era
bonito, acho, para um cara mais velho, mas parecia que ele não tinha se
barbeado nos últimos dias, e sua camisa estava abotoada errada, então um
lado de seu colarinho estava mais alto que o outro.
– É melhor vocês entrarem.
Não parecia uma casa pra qual eles tinham acabado de se mudar. Havia
robôs LEGO nas escadas e dois gatos dormindo no sofá da sala de estar. A
mesa do café estava cheia de revistas, e o casaco de inverno de uma
criancinha estava jogado no chão. A casa inteira cheirava a biscoitos de
chocolate recém-assados. Havia jazz vindo da cozinha. Parecia um tipo
bagunçado, feliz de lar – o tipo de lugar no qual se mora desde sempre.
– Pai! – um garotinho gritou. – Ele está desmontando meus robôs.
– Bobby – Dr. Chase chamou, ausente, – não desmonte os robôs do seu irmão.
– Eu sou Bobby! – o garotinho protestou. – Ele é o Matthew!
– Matthew – Dr. Chase chamou, – não desmonte os robôs do seu irmão!
– Ok, pai!
Dr. Chase se virou para nós.
– Vamos subir para o meu escritório. Por aqui.
– Querido? – uma mulher chamou. A madrasta de Annabeth apareceu na sala
de estar, enxugando as mãos com um pano de prato. Ela era uma bonita
mulher asiática com mechas vermelhas nos cabelos amarrados em um coque.
– Quem são nossas visitas? – ela perguntou
– Oh – Dr. Chase disse. – Este é...
Ele nos encarou sem expressão.
– Frederick – ela censurou. – Você se esqueceu de perguntar os nomes deles?
Nós nos apresentamos um pouco apreensivos, mas a Sra. Chase parecia
realmente legal. Ela perguntou se estávamos com fome. Nós admitimos que
estávamos, e ela disse que iria nos trazer alguns biscoitos, sanduíches e
refrigerantes.
– Querida – Dr. Chase disse. – Eles vieram por causa de Annabeth.
Eu meio que esperava que a Sra. Chase virasse uma lunática desvairada
com a menção de sua enteada, mas ela apenas franziu os lábios e pareceu
preocupada.
– Tudo bem. Subam para o escritório e vou levar alguma comida para
vocês. – Ela sorriu para mim. – Prazer em conhecê-lo, Percy. Ouvi muito
sobre você.
Escada acima, entramos no escritório do Dr. Chase e eu disse:
– Uau!
A sala era coberta de livros em todas as paredes, mas o que realmente me
chamou a atenção foram os brinquedos de guerra. Havia um grande
tabuleiro com miniaturas de tanques e soldados batalhando ao longo de um
rio pintado de azul, com colinas e árvores falsas e coisas assim.
Aviões bimotores antigos pendurados em fios presos ao teto, inclinados
em ângulos malucos como se estivessem no meio de um combate aéreo. Dr.
Chase sorriu.
– Sim. A Terceira Batalha de Ypres. Estou escrevendo um artigo, veja
bem, sobre o uso dos Sopwith Camels para bombardear as linhas inimigas.
Acredito que eles desempenharam um papel maior do que lhes foi dado
crédito.
Ele arrancou um bimotor de seu fio e varreu com ele o campo de batalha,
fazendo barulhos de motor de avião enquanto ele derrubava pequenos
soldados alemães.
– Oh, certo – eu disse. Sabia que o pai de Annabeth era um professor de
história militar. Ela nunca tinha mencionado que ele brincava com
soldadinhos.
Zöe se aproximou e estudou o campo de batalha.
– As linhas alemãs estavam mais distantes do rio.
Dr. Chase olhou fixamente para ela.
– Como você sabe isso?
– Eu estava lá – ela disse casualmente. – Ártemis queria nos mostrar o
quanto a guerra era horrível, o jeito como homens mortais lutavam uns
contra os outros. E como era insensato, também. A batalha foi um
desperdício completo.
Dr. Chase abriu sua boca em choque.
– Você...
– Ela é uma Caçadora, senhor – Thalia falou. – Mas não é por isso que estamos aqui. Precisamos...
– Você viu os Sopwith Camels? – Dr. Chase disse. – Quantos havia lá? Em quais formações eles voavam?
– Senhor – Thalia interrompeu de novo. – Annabeth está em perigo.
Isso chamou a atenção dele. Ele baixou o bimotor.
– É claro – ele disse. – Contem-me tudo.
Não foi fácil, mas nós tentamos. Nesse meio tempo, a luz da tarde foi
enfraquecendo do lado de fora. Estávamos ficando sem tempo.
Quando terminamos, Dr. Chase desabou na sua cadeira reclinável de couro. Ele entrelaçou as mãos.
– Minha pobre corajosa Annabeth. Devemos nos apressar.
– Senhor, precisamos de transporte para o Monte Tamalpais – Zöe disse. – E precisamos imediatamente.
– Eu vou levar vocês. Humm, seria mais rápido voar no meu Camel, mas só tem dois assentos.
– Uau, você tem um bimotor de verdade? – eu disse.
– Lá no Campo Crissy – Dr. Chase falou, orgulhoso. – Essa foi a razão
por que tive que me mudar para cá. Meu patrocinador é um colecionador
privado com algumas das maiores relíquias da Primeira Guerra Mundial no
mundo. Ele me deixou restaurar o Sopwith Camel...
– Senhor – Thalia disse. – Apenas um carro seria ótimo. E seria melhor se nós fôssemos sem você. É muito perigoso.
Dr. Chase franziu a testa, desconfortável.
– Agora espere um minuto, mocinha. Annabeth é minha filha. Perigoso ou não, eu... eu não posso apenas...
– Lanches – a Sra. Chase anunciou. Ela entrou empurrando a porta com uma
bandeja cheia de sanduíches com manteiga de amendoim e geleia, Cocas e
biscoitos frescos saídos do forno, as gotas de chocolate ainda moles.
Thalia e eu cheiramos alguns biscoitos enquanto Zöe disse:
– Eu posso dirigir, senhor. Não sou tão jovem quanto pareço. Prometo não destruir teu carro.
A Sra. Chase juntou as sobrancelhas.
– O que está acontecendo?
– Annabeth está em perigo – Dr. Chase disse. – No Monte Tam. Eu os levaria, mas... aparentemente não é lugar para mortais.
Pareceu que era realmente difícil para ele soltar essa última parte.
Esperei que a Sra. Chase dissesse não. Quero dizer, que pais mortais
deixariam três adolescentes menores de idade pegarem emprestado seu
carro? Para minha surpresa, a Sra. Chase assentiu.
– Então é melhor eles irem logo.
– Certo! – Dr. Chase pulou e começou a apalpar os bolsos. – Minhas chaves...
Sua esposa suspirou.
– Frederick, honestamente. Você perderia a cabeça se não estivesse
amarrada dentro do seu chapéu de aviador. As chaves estão penduradas no
cabide perto da porta da frente.
– Certo! – Dr. Chase disse.
Zöe agarrou um sanduíche.
– Obrigada aos dois. Devemos ir. Agora!
Nós passamos apressados pela porta e descemos as escadas, os Chase bem atrás de nós.
– Percy – a Sra. Chase chamou quando eu estava saindo, – diga a
Annabeth... Diga que ela ainda tem um lar aqui, você dirá? Lembre-a
disso.
Dei uma última olhada na bagunçada sala de estar. Os meio-irmãos de
Annabeth espalhando LEGOs e discutindo, o cheiro de biscoitos enchendo o
ar. Não era um lugar ruim, pensei.
– Direi a ela – prometi.
Nós corremos para o lado de fora até o Volkswagen conversível
estacionado na entrada da garagem. O sol estava se pondo. Percebi que
tínhamos menos de uma hora para salvar Annabeth.
– Essa coisa não pode ir mais rápido? – Thalia exigiu. Zöe a encarou. – Eu não posso controlar o tráfego.
– Vocês duas parecem a minha mãe – eu disse.
– Cala a boca! – elas falaram em uníssono.
Zöe costurou por dentro e por fora do trânsito na Ponte Golden Gate. O
sol estava afundando no horizonte quando nós finalmente chegamos em
Marin County e saímos da rodovia.
As estradas eram estupidamente estreitas, serpenteando através de
florestas e por cima de encostas de colinas e ao redor de beiradas de
ravinas íngremes. Zöe não diminuiu a velocidade de jeito nenhum.
– Por que tudo cheira como pastilhas para tosse? – perguntei.
– Eucaliptos – Zöe apontou para as enormes árvores à nossa volta.
– Aquilo que os coalas comem?
– E monstros – ela disse. – Eles amam mastigar as folhas. Especialmente dragões.
– Dragões mascam folhas de eucalipto?
– Crê em mim – Zöe falou. – Se tivesses hálito de dragão, mascarias eucalipto também.
Eu nem a questionei, mas mantive meus olhos abertos com mais cautela
enquanto nos movíamos. À nossa frente erguia-se o Monte Tamalpais. Acho
que, em termos de montanhas, era pequena, mas parecia bem grande
enquanto nos dirigíamos a ela.
– Então essa é a Montanha do Desespero? – perguntei.
– Sim – Zöe disse rispidamente.
– Por que eles a chamam assim?
Ela ficou em silêncio por mais de um quilômetro antes de responder.
– Depois da guerra entre os Titãs e os deuses, muitos dos Titãs foram
punidos e aprisionados. Cronos foi fatiado em pedaços e jogado no
Tártaro. O braço direito de Cronos, o general de suas forças, foi
aprisionado lá em cima, no topo, logo além do Jardim das Hespérides.
– O General – eu disse. Nuvens pareciam rodopiar ao redor do pico, como
se a montanha as estivesse sugando para dentro, girando-as como um pião.
– O que está acontecendo lá em cima? Uma tempestade?
Zöe não respondeu. Tive a sensação de que ela sabia exatamente o que as nuvens significavam, e não gostava disso.
– Temos que nos concentrar – Thalia disse. – A Névoa é realmente forte aqui.
– Do tipo mágico ou do tipo natural? – perguntei.
– Ambas.
As nuvens cinzas espiralavam ainda mais densas sobre a montanha, e
continuávamos nos dirigindo diretamente para elas. Estávamos fora da
floresta agora, em amplos espaços de penhascos e grama e pedras e
nevoeiro.
Olhei de relance abaixo, para o oceano, enquanto passávamos numa curva exagerada, e vi algo que me fez pular do assento.
– Olhem! – Mas nós viramos em um canto e o oceano desapareceu atrás das colinas.
– O quê? – perguntou Thalia.
– Um grande navio branco – eu disse. – Atracado perto da praia. Parecia um navio de cruzeiro.
Os olhos dela se arregalaram.
– O navio de Luke?
Queria falar que não tinha certeza. Poderia ser uma coincidência. Mas eu sabia bem. O Princesa Andrômeda,
navio de cruzeiro demoníaco de Luke, estava atracado naquela praia. Foi
por isso que ele mandou seu navio por todo o Canal do Panamá. Era o
único jeito de navegar vindo da Costa Leste até a Califórnia.
– Teremos companhia, então. – Zöe disse, sombriamente. – O exército de Cronos.
Eu estava prestes a responder, quando de repente os pelos da minha nuca se arrepiaram. Thalia gritou:
– Pare o carro. AGORA!
Zöe deve ter sentido que alguma coisa estava errada, porque ela pisou no
freio sem questionar. O Volkswagen amarelo rodou duas vezes antes de
parar na beira do penhasco.
– Para fora! – Thalia abriu a porta e me empurrou com força. Nós dois rolamos no chão. No próximo segundo: BOOOM!
Um relâmpago brilhou e o Volkswagen do Dr. Chase explodiu como uma
granada amarelo canário. Eu provavelmente teria sido morto pelos
estilhaços se não fosse o escudo de Thalia, que apareceu sobre mim.
Escutei um barulho parecido com um bate-estacas metálico, e quando abri
meus olhos, estávamos rodeados por destroços. Parte do para-lama do
Volkswagen tinha empalado a si mesmo na rua. A cobertura de fumaça
estava rodando em círculos. Pedaços de metal amarelo estavam espalhados
pelo meio da estrada.
Engoli o gosto da fumaça na minha boca e olhei para Thalia.
– Você salvou minha vida.
– E pelas mãos de um parente um perecerá – ela murmurou. – Maldito seja. Ele destruiria a mim? A mim?
Levou um segundo para eu perceber que ela falava de seu pai.
– Ah, ei, esse não pode ter sido o relâmpago de Zeus. De jeito nenhum.
– De quem, então? – Thalia exigiu.
– Eu não sei. Zöe falou o nome de Cronos. Talvez ele...
Thalia agitou a cabeça, parecendo com raiva e atordoada.
– Não. Não foi isso.
– Espere – falei. – Onde está Zöe? Zöe!
Ambos levantamos e corremos em volta do Volkswagen explodido. Nada
dentro. Nada em nenhuma direção da estrada. Olhei penhasco abaixo. Nem
sinal dela.
– Zöe! – gritei.
Então ela estava de pé ao meu lado, puxando-me pelo braço.
– Silêncio, tolo! Queres acordar Ladon?
– Quer dizer que já chegamos?
– Bem perto – ela disse. – Segui-me.
Camadas de neblina estavam flutuando pela estrada. Zöe pisou numa delas,
e quando a neblina passou, ela não estava mais lá. Thalia e eu nos
entreolhamos.
– Concentre-se em Zöe – Thalia avisou. – Nós a estamos seguindo. Vá direto para a neblina e mantenha isso em mente.
– Espere, Thalia. Sobre o que aconteceu lá no píer... Quero dizer, com a mantícora e o sacrifício...
– Não quero falar sobre isso.
– Você não teria realmente... você sabe?
Ela hesitou.
– Eu apenas estava chocada. Só isso.
– Zeus não mandou aquele relâmpago no carro. Foi Cronos. Ele está
tentando te manipular, fazendo você ficar com raiva do seu pai.
Ela respirou fundo.
– Percy, sei que você está tentando fazer eu me sentir melhor. Obrigada. Mas vamos lá. Precisamos ir.
Ela pisou na neblina, para dentro da Névoa, e eu segui.
Quando a neblina clareou, eu ainda estava na encosta da montanha, mas a
estrada era lamacenta. A grama era mais grossa. O pôr do sol fez um
corte vermelho sangue através do mar. O pico da montanha parecia mais
próximo agora, rodopiando com nuvens de tempestade e poder bruto. Havia
apenas um caminho até o topo, diretamente à nossa frente. E levava
através de um exuberante campo de sombras e flores: os jardins do
crepúsculo, exatamente como eu havia visto em meus sonhos.
Se não fosse pelo enorme dragão, o jardim seria o lugar mais bonito que
eu já tinha visto. A grama cintilava com luz prateada do entardecer, e
as flores eram de cores tão brilhantes que quase resplandeciam no
escuro. Lajotas de mármore preto polidas conduziam em volta dos dois
lados de uma macieira do tamanho de um prédio de cinco andares, cada
galho reluzindo com maçãs douradas, e eu não quis dizer maçãs douradas
amarelas como na mercearia. Quero dizer maçãs douradas de verdade.
Não consigo descrever por que elas eram tão atraentes, mas logo que
senti sua fragrância, soube que uma mordida seria a coisa mais deliciosa
que eu já teria provado.
– As maçãs da imortalidade – Thalia disse. – O presente de casamento de Hera dado por Zeus.
Queria passar à frente e arrancar uma, salvo pelo dragão enrolado em
volta da árvore. Agora, não sei o que você pensa quando eu digo dragão.
O que quer que seja, não é assustador o suficiente. O corpo de serpente
era grosso como um foguete detonador, tremeluzindo com escamas de
cobre. Ele tinha mais cabeças do que eu podia contar, como se uma
centena de pítons mortíferas estivessem fundidas juntas. Ele aparentava
estar dormindo. As cabeças deitadas enroladas num monte parecido com um
espaguete na grama, todos os olhos fechados.
Então as sombras à nossa frente começaram a se mover. Havia uma bela e
misteriosa cantoria, como vozes vindas do fundo de um poço. Procurei
Contracorrente, mas Zöe deteve minha mão.
Quatro figuras cintilaram para a existência, quatro jovens mulheres que
se pareciam muito com Zöe. Todas usavam túnicas gregas brancas. A pele
delas era como caramelo. Sedosos cabelos negros caíam soltos em volta
dos ombros. Era estranho, mas eu nunca havia reparado no quanto Zöe era
bonita até ver suas irmãs, as Hespérides. Elas se pareciam exatamente
com Zöe – deslumbrantes, e provavelmente muito perigosas.
– Irmãs – Zöe disse.
– Não vemos irmã alguma – uma das garotas disse friamente. – Vemos dois
meio-sangues e uma Caçadora. Vós todos deveis morrer em breve.
– Você entendeu errado – dei um passo à frente. – Ninguém vai morrer.
As garotas me estudaram. Elas tinham olhos de pedra vulcânica, inexpressivos e completamente negros.
– Perseu Jackson – uma delas disse.
– Sim – meditou a outra. – Não vejo por que ele é uma ameaça.
– Quem disse que eu era uma ameaça?
A primeira Hespéride olhou rapidamente às suas costas, na direção do topo da montanha.
– Eles temem a ti. Estão descontentes que esta aqui ainda não te matou.
Ela apontou para Thalia.
– Tentador algumas vezes – Thalia admitiu. – Mas não, obrigada. Ele é meu amigo.
– Não há amigos aqui, filha de Zeus – a garota disse. – Somente inimigos. Regressai.
– Não sem Annabeth – Thalia disse.
– E Ártemis – Zöe disse. – Devemos nos aproximar da montanha.
– Sabes que ele vai te matar – a garota disse. – Tu não és páreo para ele.
– Ártemis deve ser libertada – insistiu Zöe. – Deixai-nos passar.
A garota balançou a cabeça.
– Tu não tens mais nenhum direito aqui. Nós só temos que elevar nossas vozes e Ladon vai acordar.
– Ele não vai me ferir – Zöe disse.
– Não? E quanto aos teus supostos amigos?
Então Zöe fez a última coisa que eu esperava. Ela gritou:
– Ladon! Acorda!
O dragão se agitou, brilhando como uma montanha de moedas. As Hespérides
ganiram e se dispersaram. A garota líder falou para Zöe:
– És louca?
– Nunca tiveste coragem alguma, irmã – Zöe declarou. – Esse é o teu problema.
O dragão Ladon estava se contorcendo agora, uma centena de cabeças
chicoteando ao redor, línguas tremeluzindo e provando o ar. Zöe deu um
passo à frente, seus braços levantados.
– Zöe, não – Thalia falou. – Você não é mais uma Hespéride. Ele vai matar você.
– Ladon é treinado para proteger a árvore – Zöe disse. – Beirai em volta
dos limites do jardim. Subi a montanha. Enquanto eu for uma ameaça
maior, ele deverá vos ignorar.
– Deverá – falei. – Não é muito tranquilizador.
– É o único jeito – ela disse. – Mesmo nós três juntos não conseguiremos lutar com ele.
Ladon abriu suas bocas. O som de cem cabeças sibilando de uma vez mandou
um calafrio pelas minhas costas, e isso foi antes de seu hálito me
atingir. O cheiro era como ácido. Fez meus olhos queimarem, minha pele
arrepiar, e meu cabelo ficar todo em pé. Eu me lembrei da vez em que um
rato morrera dentro da parede do nosso apartamento em Nova Iorque no
meio do verão. Esse fedor era parecido, exceto que cem vezes mais forte,
e misturado com o cheiro de eucalipto mascado. Prometi a mim mesmo
naquela hora que nunca iria pedir para a enfermeira da escola outra pastilha para tosse.
Queria sacar minha espada. Mas então me lembrei do meu sonho sobre Zöe e
Hércules, e como Hércules havia falhado em um ataque direto. Decidi
confiar no julgamento de Zöe.
Thalia foi pela esquerda. Fui pela direita. Zöe caminhou direto para o monstro.
– Sou eu, meu dragãozinho – Zöe disse. – Zöe voltou.
Ladon deslocou-se pra frente, então para trás. Algumas bocas se
fecharam. Algumas continuaram sibilando. Confusão de dragão. Enquanto
isso, as Hespérides cintilaram e se transformaram em sombras. A voz da
mais velha sussurrou:
– Tola.
– Eu costumava alimentar a ti na mão – Zöe continuou, falando numa voz
tranquila enquanto dava passos em direção à árvore dourada. – Ainda
gostas de carne de cordeiro?
Os olhos do dragão brilharam.
Thalia e eu estávamos quase na metade do caminho em volta do jardim. À
frente, eu podia ver uma única trilha pedregosa dirigindo-se acima até o
cume negro da montanha. A tempestade rodopiava sobre ele, girando no
topo como se fosse o eixo do mundo inteiro.
Tínhamos quase atravessado o campo quando algo saiu errado. Senti o
humor do dragão mudar. Talvez Zöe tivesse chegado perto demais. Talvez o
dragão tivesse percebido que estava faminto. Qualquer que fosse a
razão, ele investiu em Zöe.
Dois mil anos de treinamento a mantiveram viva. Ela se esquivou de uma
série de presas cortantes e saltou sob outra, serpenteando através das
cabeças do dragão enquanto corria em nossa direção, engasgando com o
hálito horrível do monstro.
Saquei Contracorrente para ajudar.
– Não! – Zöe arquejou. – Correi!
O dragão a acertou do lado, e Zöe gritou. Thalia revelou Aegis, e o
dragão sibilou. No momento de indecisão dele, Zöe correu em nossa
direção, subindo a montanha, e nós seguimos.
O dragão não tentou nos perseguir. Ele sibilou e pisoteou o solo, mas
acho que ele era bem treinado para proteger aquela árvore. Ele não seria
fisgado nem pela suculenta perspectiva de comer alguns heróis.
Corremos montanha acima enquanto as Hespérides retomavam sua canção nas
sombras atrás de nós. A música não soava tão bonita para mim agora –
parecia mais a trilha sonora para um funeral.
No topo da montanha havia ruínas, blocos de granito e mármore pretos,
grandes como casas. Colunas quebradas. Estátuas de bronze que
aparentavam terem sido derretidas pela metade.
– As ruínas do Monte Ótris – Thalia sussurrou com receio.
– Sim – Zöe disse. – Não estava aqui antes. Isso é ruim.
– O que é Monte Ótris? – perguntei, sentindo-me bobo como sempre.
– A fortaleza dos Titãs nas montanhas – Zöe disse. – Na primeira guerra,
Olimpo e Ótris eram as duas capitais rivais do mundo. Ótris era– Ela
estremeceu e segurou o lado do corpo.
– Você está ferida – falei. – Deixe-me ver.
– Não! Não é nada. Estava dizendo... na primeira Guerra, Ótris foi feita em pedaços.
– Mas... como está aqui?
Thalia olhou em volta cuidadosamente enquanto buscávamos nosso caminho
através dos escombros, passando por blocos de mármore e arcadas
quebradas.
– Ela se move do mesmo jeito que o Olimpo. Sempre existe nos limites da civilização. Mas o fato dela estar aqui, nesta montanha, não é bom.
– Por quê?
– Esta é a montanha de Atlas – Zöe disse. – Onde ele sustenta – ela
congelou. Sua voz estava rasgada de desespero. – Onde ele costumava
sustentar o céu.
Tínhamos chegado ao pico. Alguns metros à nossa frente, nuvens cinzas
rodopiavam num denso vórtice, formando um funil de nuvens que quase
tocava o topo da montanha, mas ao invés disso descansava nos ombros de
uma garota de doze anos com cabelos castanho avermelhados e um vestido
prateado retalhado: Ártemis, suas pernas presas à rocha por correntes de
bronze celestial. Foi isto que vi em meu sonho. Não foi o teto de uma
caverna que Ártemis foi forçada a carregar. Foi o teto do mundo.
– Minha senhora! – Zöe correu à frente, mas Ártemis disse:
– Pare! É uma armadilha. Vocês devem ir agora.
Sua voz estava extenuada. Ela estava banhada em suor. Eu nunca vira uma
deusa sentir dor antes, mas o peso do céu claramente era demais para
Ártemis.
Zöe estava chorando. Ela correu para frente apesar dos protestos de Ártemis, e forçou as correntes.
Uma voz estrondosa falou atrás de nós:
– Ah, que comovente.
Nós nos viramos. O General estava lá em pé com seu terno de seda marrom. Ao seu lado estava Luke e meia dúzia de dracaenae carregando o sarcófago dourado de Cronos.
Annabeth estava do lado de Luke. Ela tinha as mãos algemadas às costas,
uma mordaça em sua boca, e Luke estava segurando a ponta de sua espada
na garganta dela. Encontrei os olhos dela, tentando fazer mil perguntas.
Contudo, havia apenas uma mensagem que ela estava me enviando: CORRA.
– Luke – Thalia rosnou. – Deixe-a ir.
O sorriso de Luke era fraco e pálido. Ele parecia ainda pior do que três dias atrás em D.C.
– Essa é uma decisão do General, Thalia. Mas é bom vê-la de novo.
Thalia cuspiu nele. O General abafou uma risada.
– Tudo isso pelos velhos amigos. E você, Zöe. Faz muito tempo. Como está minha pequena traidora? Eu vou apreciar matar você.
– Não responda – Ártemis gemeu. – Não o desafie.
– Espere um minuto – eu disse. – Você é Atlas?
O General olhou de relance para mim.
– Então até o mais estúpido dos heróis consegue finalmente descobrir
alguma coisa. Sim, eu sou Atlas, o general dos Titãs e terror dos
deuses. Parabéns. Vou matá-lo em breve, assim que lidar com essa garota
miserável.
– Você não vai ferir Zöe – falei. – Eu não vou deixar.
O General zombou.
– Você não tem o direito de interferir, pequeno herói. Este é um assunto de família.
Eu franzi a testa.
– Um assunto de família?
– Sim – Zöe disse friamente. – Atlas é meu pai.
Esse Dragão precisa de uma Escova de Dentes do Olimpo
ResponderExcluirKrl mano
ResponderExcluirLuke mt arrombado
sim o luke é mto a******** shjdkjdsk
ResponderExcluirHora da pancadaria!!!
ResponderExcluir– Ela sorriu para mim. – Prazer em conhecê-lo, Percy. Ouvi muito sobre você.
ResponderExcluirAnnabeth, falando sobre o Percy em casa em😏
EU NÃO ACREDITO QUE ESQUECI DISSO! AS HESPÉRIDES SÃO FILHAS DE ATLAS! COMO DIABOS EU PUDE ESQUECER!?
ResponderExcluirQue final de capítulo espetacular
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