Meu dia começou normal. Ou tão normal quanto pode ser no colégio
Meriwether. Veja bem, é um colégio "experimental", no centro de
Manhattan, o que significa que nos sentamos em pufes, em vez de
carteiras, e não recebemos notas, e os professores usam jeans e
camisetas de shows de rock no trabalho.
Por mim, tudo bem. Tenho transtorno do déficit de atenção e sou
disléxico, como a maioria dos meios-sangues, portanto nunca fui lá muito
bem nas escolas comuns, mesmo antes de eles me expulsarem. A única
coisa ruim em relação ao Meriwether era que os professores sempre viam
as coisas pelo lado mais promissor, e a garotada nem sempre era... bem,
promissora. Por exemplo, minha primeira aula daquele dia: inglês. Todos
os alunos do secundário leram aquele livro chamado O senhor das moscas,
em que um monte de garotos é abandonado em uma ilha e fica pirado.
Então, no exame final, nossos professores nos mandaram passar uma hora
sem supervisão de adultos, no pátio, para verem o que aconteceria.
O que se deu foi uma guerra generalizada de "cuecão" entre os alunos da
sétima e oitava séries, duas guerras de cascalhos e uma partida de
basquete sem marcação de faltas. O valentão da escola, Matt Sloan,
liderou a maior parte dessas atividades. Sloan não era grande nem forte,
mas agia como se fosse. Tinha olhos de pit bull e um cabelo preto
desgrenhado, e sempre vestia roupas caras, mas amarfanhadas, como se
quisesse que todo o mundo visse como ele se lixava para o dinheiro da
família. Tinha um dente da frente lascado, de uma vez em que pegara o
Porsche do pai para dar umas voltas e batera numa placa de DEVAGAR –
CRIANÇAS BRINCANDO. De qualquer jeito, Sloan estava dando "cuecão" em
todo o mundo, até que cometeu o erro de tentar puxar a cueca do meu
amigo Tyson. Tyson era o único garoto sem-teto no colégio Meriwether.
Até onde minha mãe e eu conseguimos descobrir, ele havia sido abandonado
pelos pais quando era muito pequeno, provavelmente por ser tão...
diferente.
Tinha um metro e noventa de altura e o físico do Abominável Homem das
Neves, mas chorava muito e tinha medo de praticamente tudo, inclusive do
próprio reflexo. Seu rosto era meio disforme e abrutalhado. Não sei
dizer de que cor eram seus olhos porque nunca consegui ver além de seus
dentes tortos. Sua voz era profunda, mas ele falava de um jeito
engraçado, como um menino muito mais jovem – acho que por nunca ter ido a
uma escola antes de Meriwether. Usava jeans esfarrapados, tênis imundos
tamanho cinquenta e dois e uma camisa de flanela xadrez esburacada.
Tinha o cheiro dos becos de Nova York, porque era lá que vivia, em uma
caixa de geladeira de papelão, perto da Rua 72. O colégio Meriwether o
adotara em virtude de um projeto de serviço comunitário, para que todos
os alunos pudessem se sentir bem consigo mesmos. Infelizmente, a maioria
deles não suportava Tyson. Depois de descobrirem que apesar de sua
incrível força e da aparência assustadora ele era grande e bobo, sentiam
prazer em atormentá-lo. Eu era praticamente seu único amigo, o que
significava que ele era o meu único amigo.
Minha mãe já reclamara na escola um milhão de vezes, porque eles não
estavam fazendo o bastante para ajudá-lo. Ligou para o serviço social,
mas aparentemente nada aconteceu. Os assistentes sociais alegaram que
Tyson não existia. Juraram de pés juntos que tinham visitado o beco que
nós descrevemos e não conseguiram encontrá-lo, muito embora eu não
entenda como é possível não ver um garoto gigante que mora numa caixa de
geladeira. De qualquer modo, Matt Sloan enfiou-se por trás dele e
tentou lhe dar um "cuecão" , e Tyson entrou em pânico. Afastou Sloan com
um tapa um pouco forte demais. Sloan saiu voando por cinco metros e
ficou enroscado no balanço de pneu das crianças pequenas.
– Seu monstrengo! – berrou Sloan. – Por que não volta para sua caixa de papelão?
Tyson começou a soluçar. Sentou-se no trepa-trepa com tanta força que entortou a barra, e enterrou a cabeça nas mãos.
– Retire o que disse, Sloan! – gritei.
Sloan só me lançou uma careta de deboche.
– O que você tem com isso, Jackson? Você poderia ter amigos se não estivesse sempre tomando as dores daquele monstrengo.
Fechei os punhos. Esperava que minha cara não estivesse tão vermelha como me parecia.
– Ele não é um monstrengo. É só...
Tentei pensar na coisa certa a dizer, mas Sloan não ouvia. Ele e seus
amigos feios e grandalhões estavam muito ocupados rindo. Eu me perguntei
se era minha imaginação ou se Sloan tinha mais brutamontes em volta
dele que de costume. Estava acostumado a vê-lo com dois ou três, mas
naquele dia ele tinha, tipo, mais uma dúzia, e eu tinha certeza absoluta
de que nunca os vira antes.
– Espere só até a aula de educação física, Jackson – gritou Sloan. – Você já está muito morto.
Quando terminou o primeiro tempo, nosso professor de inglês, o Sr. De
Milo, saiu para avaliar a carnificina. Ele declarou que tínhamos
entendido O senhor das moscas perfeitamente. Todos passamos na
matéria dele, e jamais íamos nos tornar pessoas violentas. Matt Sloan
assentiu, sério, e depois me lançou um sorriso de dente lascado. Tive de
prometer que compraria um sanduíche extra de manteiga de amendoim para
Tyson no almoço, para ele parar de soluçar.
– Eu... eu sou um monstrengo? – ele me perguntou.
– Não – assegurei, rilhando os dentes. – Matt Sloan é que é um monstrengo.
Tyson fungou.
– Você é um bom amigo. Vou sentir saudades de você no ano que vem se... se eu não puder...
A voz dele tremeu. Percebi que ele não sabia se no ano seguinte seria
novamente convidado para o projeto comunitário. Imaginei se o diretor ao
menos teria se dado ao trabalho de conversar com ele sobre isso.
– Não se preocupe, grandão – consegui dizer. – Vai dar tudo certo.
Tyson me lançou um olhar tão agradecido que me senti um grande mentiroso. Como podia prometer a um garoto como ele que alguma coisa daria certo?
Nossa próxima prova era de ciências. A Sra. Tesla nos disse que teríamos
de misturar substâncias químicas até conseguir fazer alguma coisa
explodir. Tyson era meu parceiro de laboratório. As mãos dele eram
grandes demais para os pequeninos frascos que devíamos usar. Ele
derrubou sem querer uma bandeja de substâncias do balcão e criou um
cogumelo de fumaça alaranjada na lata de lixo.Depois que a Sra. Tesla
evacuou o laboratório e convocou o esquadrão de remoção de resíduos
perigosos, elogiou Tyson e eu por sermos químicos natos.
Tínhamos sido os primeiros da história a gabaritar sua prova em menos de
trinta segundos. Fiquei contente de a manhã ter passado depressa, pois
isso me impediu de pensar demais nos meus problemas. Eu não suportava a
ideia de que algo pudesse estar errado no acampamento. Pior ainda: não
conseguia afastar a lembrança do pesadelo. Tinha a terrível sensação de
que Grover estava em perigo.
Em estudos sociais, quando estávamos desenhando mapas de latitude e
longitude, abri meu caderno e olhei para a foto lá dentro – minha amiga
Annabeth de férias em Washington. Ela de jeans e uma jaqueta índigo por
cima da camiseta cor de laranja do Acampamento Meio-Sangue. O cabelo
loiro estava preso para trás, com uma bandana. Estava em pé na frente do
Memorial de Lincoln, com os braços cruzados, parecendo satisfeitíssima
consigo mesma, como se ela própria tivesse projetado o lugar. Veja bem,
Annabeth quer ser arquiteta quando crescer, por isso está sempre
visitando monumentos famosos e coisas do tipo. Ela é esquisita assim
mesmo. Tinha me mandado a foto por e-mail nas férias da primavera, e de
vez em quando eu olhava só para me lembrar de que ela era real e de que o
Acampamento Meio-Sangue não tinha sido coisa da minha imaginação. Quis
que Annabeth estivesse ali. Ela saberia interpretar meu sonho. Nunca
admiti isso para ela, mas era mais esperta do que eu, mesmo que às vezes
fosse meio irritante. Eu já ia fechar meu caderno quando Matt Sloan e
arrancou a foto da espiral.
– Ei! – protestei.
Sloan conferiu a foto, e seus olhos se arregalaram.
– Ah! não, Jackson. Quem é essa? Ela não é a sua...
– Devolva! – Senti as orelhas ficando quentes.
Sloan passou a foto para seus colegas feiosos, que deram risadinhas e
começaram a rasgá-la para fazer bolinhas de cuspe. Eram alunos novos que
deviam estar de visita, porque todos usavam aquelas etiquetas idiotas
de "OI! MEU NOME É:" entregues na recepção. Também deviam ter um senso
de humor meio esquisito, porque todas elas estavam preenchidas com nomes
estranhos, como CHUPA-TUTANO, COME-CRÂNIOS E ZÉ-MANÉ. Não existem seres
humanos com nomes assim.
– Esses caras vão se mudar para cá no ano que vem – alardeou Sloan, como se aquilo devesse me assustar. – Aposto que eles podem pagar a escola, ao contrário do seu amigo retardado.
– Ele não é retardado. – Tive de me conter muito, muito mesmo, para não dar um murro na cara de Sloan.
– Você é um perdedor, Jackson. Ainda bem que eu vou livrar você do seu sofrimento no próximo período.
Os grandalhões cupinchas dele mascaram minha foto. Queria transformá-los
em pó, mas estava sob ordens estritas de Quíron de nunca descontar
minha raiva em mortais comuns, não importava quanto eles fossem
detestáveis. Tinha de deixar para brigar com os monstros. Ainda assim,
parte de mim pensou que se Sloan ao menos soubesse quem eu era
realmente... A campainha tocou.
Quando Tyson e eu estávamos saindo da classe, uma voz de menina sussurrou:
– Percy!
Corri os olhos pela área dos vestiários, mas ninguém estava prestando
nenhuma atenção a mim. Como se alguma menina em Meriwether fosse um dia
chamar meu nome. Antes que eu tivesse tempo de avaliar se estava ou não
imaginando coisas, uma multidão de garotos disparou para o ginásio,
arrastando-me com ela. Era hora da educação física. O treinador nos
prometera um jogo de queimado vale-tudo, e Matt Sloan prometera me
matar.
O uniforme de ginástica de Meriwether é short azul-celeste e camiseta
desbotada. Felizmente a maior parte das nossas atividades atléticas era
interna, assim não tínhamos de correr pelo bairro de Tribeca parecendo
um bando de crianças hippies em treinamento. Troquei de roupa o mais
depressa que pude no vestiário, pois não queria ter de lidar com Sloan.
Estava quase saindo quando Tyson chamou:
– Percy? – Ele ainda não tinha se trocado. Estava postado junto à porta
da sala de musculação, segurando as roupas de ginástica. – Será que
você... ahn...
– Ah! sim. – Tentei não parecer aborrecido com aquilo. – Sim, claro, cara.
Tyson esquivou-se para dentro da sala. Fiquei de guarda do lado de fora
da porta enquanto ele se trocava. Eu me sentia meio constrangido fazendo
aquilo, mas ele me pedia quase todos os dias. Acho que é porque ele é
todo peludo e tem umas cicatrizes esquisitas nas costas, sobre as quais
eu nunca tive coragem de perguntar. De qualquer modo, aprendi pelo
método mais difícil que se as pessoas mexessem com Tyson enquanto
estivesse se vestindo, ele ficava perturbado e começava a arrancar as
portas dos armários. Quando entramos no ginásio, o treinador Nunley
estava sentado à sua mesinha lendo a Sports Illustrated. Nunley
tinha cerca de um milhão de anos de idade, usava óculos bifocais e não
tinha dentes, e tinha um topete grisalho ensebado. Lembrava o Oráculo do
Acampamento Meio-Sangue – que era uma múmia encarquilhada – só que o
treinador Nunley se movia muito menos e nunca soltava nuvens de fumaça
verde. Bem, ao menos não que eu tivesse observado. Matt Sloan disse:
– Treinador, posso ser o capitão?
– Hã? – o treinador Nunley ergueu os olhos de sua revista. – Sim – murmurou. – Hmm-mrnm.
Sloan sorriu e se encarregou da escalação. Ele me nomeou capitão do
outro time, mas pouco importava quem eu escolhesse, pois todos os
atletas e os garotos mais populares passavam para o lado de Sloan. E
também o grupo grande de visitantes.
Do meu lado, eu tinha Tyson; Corey Bailer, o nerd de computadores; Raj
Mandali, o fenômeno dos cálculos, e meia dúzia de outros que eram sempre
atormentados por Sloan e sua gangue. Normalmente, eu me daria bem só
com Tyson – ele, sozinho, valia por meio time – mas os visitantes do
lado de Sloan eram quase tão altos e fortes quanto Tyson, e havia seis
deles. Matt Sloan espalhou um engradado de bolas no meio do ginásio.
– Com medo – murmurou Tyson. – Cheiro gozado.
Olhei para ele.
– O que tem cheiro gozado? – Não achei que ele estivesse falando de si mesmo.
– Eles. – Tyson apontou para os novos amigos de Sloan. – Eles têm um cheiro gozado.
Os visitantes estavam estalando os dedos e olhando para nós como se
fosse a hora do massacre. Não pude deixar de me perguntar de onde eles
vinham. De algum lugar onde alimentavam as crianças com carne crua e
batiam nelas com paus. Sloan soprou o apito do treinador e o jogo
começou. O time de Sloan correu para a linha de centro. Do meu lado, Raj
Man-dali gritou alguma coisa em urdu, provavelmente: "Preciso de um
penico!", e correu para a saída. Corey Bailer tentou engatinhar para
trás da forração da parede e se esconder. O restante do time fez o
melhor que pôde para se encolher de medo e não ficar parecendo alvo.
– Tyson – disse eu. – Vamos...
Uma bola me atingiu violentamente na barriga. Caí sentado no meio do
piso do ginásio. O outro time explodiu em gargalhadas. Minha visão ficou
turva. Era como se tivesse acabado de receber uma manobra de Heimlich
de um gorila. Não pude acreditar que alguém fosse capaz de lançar uma
bola com aquela força. Tyson gritou:
– Percy, abaixe-se!
Rolei enquanto outra bola passava zunindo por meu ouvido, na velocidade do som. Vuuuuuml Ela atingiu a forração da parede, e Corey Bailer ganiu.
– Ei! – gritei para o time de Sloan. – Assim vocês podem matar alguém!
O visitante chamado Zé-Mané sorriu para mim de um jeito perverso. De
algum modo, ele parecia muito maior agora... ainda mais alto que Tyson.
Seus bíceps se destacavam embaixo da camiseta.
– Assim espero, Perseu Jackson! Assim espero!
O modo como ele disse meu nome me deu um frio na espinha. Ninguém me
chamava de Perseu, a não ser aqueles que conheciam minha verdadeira
identidade. Amigos... e inimigos. O que Tyson tinha dito? Eles têm um cheiro gozado.
Monstros. Em volta de Matt Sloan, os visitantes estavam ficando
maiores. Não eram mais garotos. Eram gigantes de dois metros e meio de
altura, com olhos selvagens, dentes pontudos e braços peludos, tatuados
com cobras, dançarinas havaianas e corações. Matt Sloan deixou cair a
bola.
– Epa! Vocês não são de Detroit. Quem...
Os outros garotos do time começaram a gritar e a recuar para saída, mas o
gigante chamado Chupa-Tutano lançou uma bola com pontaria certeira. Ela
passou como um raio por Raj Mandali quando ele estava quase saindo e
atingiu a porta, fechando-a como num passe de mágica. Raj e alguns dos
outros garotos a esmurraram, desesperados, mas ela não cedeu.
– Deixe-os ir! – gritei para os gigantes.
O que se chamava Zé-Mané rosnou para mim. Tinha uma tatuagem no bíceps que dizia: ZM ama Fofinha.
– E perder os nossos petiscos? Não, Filho do Deus do Mar. Nós,
lestrigões, não estamos jogando só para matá-lo. Queremos almoçar!
Ele acenou e um novo lote de bolas de queimado apareceu na linha de
centro – mas aquelas não eram feitas de borracha vermelha. Eram de
bronze, do tamanho de balas de canhão, perfuradas, com fogo saindo dos
buracos. Deviam ser muito quentes, mas os gigantes as pegavam com as
mãos nuas.
– Treinador! – gritei.
Nunley ergueu os olhos, sonolento, mas, se viu algo de anormal no jogo
de queimado, não demonstrou. Esse é o problema com os mortais. Uma força
mágica chamada Névoa disfarça a seus olhos a verdadeira aparência dos
monstros e dos deuses, e assim eles tendem a ver apenas o que conseguem
compreender. Talvez o treinador tivesse visto alguns garotos da oitava
série batendo nas crianças menores, como de costume. Talvez os outros
garotos vissem os brutamontes de Matt Sloan prestes a lançar por aí
coquetéis Molotov (não teria sido a primeira vez). De qualquer modo, eu
tinha certeza de que ninguém mais se dava conta de que estávamos lidando
com genuínos monstros comedores de gente e sedentos de sangue.
– Sim. Hmm-mmm – resmungou o treinador. – Joguem direito.
E voltou à sua revista. O gigante chamado Come-Crânios lançou a bola.
Mergulhei de lado enquanto o cometa de bronze chamejante passava junto
ao meu ombro.
– Corey! – gritei. Tyson o puxou de trás da forração da parede bem no
momento em que a bola explodiu contra ela, transformando o acolchoado em
farrapos fumegantes.
– Corram! – gritei para os meus companheiros de time. – A outra saída!
Eles correram para o vestiário, mas outro aceno da mão de Zé-Mané fez bater aquela porta também.
– Ninguém sai enquanto você não estiver fora! – rugiu Zé-Mané. – E você não vai estar fora enquanto não o comermos!
Ele lançou sua bola de fogo. Meus companheiros de time se espalharam
enquanto ela abria uma cratera no piso do ginásio. Procurei a
Contracorrente, que carregava sempre no bolso, mas então me dei conta de
que estava usando meu short de ginástica. Eu não tinha bolsos.
Contracorrente estava enfiada no bolso da calça jeans, dentro do armário
no vestiário. E a porta do vestiário estava trancada. Eu estava
completamente indefeso. Outra bola de fogo veio como um raio em minha
direção. Tyson me empurrou para fora do caminho, mas a explosão ainda me
atirou longe. Fiquei esparramado no chão do ginásio, com a vista
embaçada pela fumaça, a camiseta desbotada salpicada de buracos
chamuscados. Logo depois da linha de centro, dois gigantes famintos me
olhavam de cima.
– Carne! – urraram. – Carne de herói para o almoço!
Os dois fizeram pontaria.
– Percy precisa de ajuda! – gritou Tyson, e pulou na minha frente bem no momento em que eles lançaram suas bolas.
– Tyson! – gritei, mas era tarde demais. As duas bolas o atingiram...
mas, não... ele as agarrou. De algum modo Tyson, que era tão desajeitado
que estava sempre derrubando equipamentos do laboratório e quebrando
estruturas do playground, tinha agarrado as duas bolas chamejantes de
metal que vinham em sua direção a um zilhão de quilômetros por hora. Ele
as atirou de volta para seus donos surpresos, que gritaram "RUIIIIIM!"
quando as esferas de bronze explodiram contra seus peitos. Os gigantes
se desintegraram em colunas gêmeas de chamas – um sinal seguro de que
eram monstros, certo. Monstros não morrem. Simplesmente se dissipam em
fumaça e pó, o que poupa aos heróis um bocado de trabalho de limpeza
depois de uma luta.
– Meus irmãos! – gemeu Zé-Mané, o Canibal.
Ele contraiu os músculos, e sua tatuagem da Fofinha ondulou.
– Você vai pagar por tê-los destruído!
– Tyson! – disse eu. – Cuidado!
Outro cometa disparou em nossa direção. Tyson só teve tempo de desviá-lo
com um tapa. Passou voando por cima da cabeça do treinador Nunley e
aterrissou na arquibancada com um imenso CABUUUUM! Crianças corriam de
um lado para o outro gritando, tentando evitar as crateras fumegantes no
piso. Outras esmurravam a porta, gritando por socorro. O próprio Sloan
estava petrificado no meio da quadra, assistindo incrédulo às bolas da
morte que voavam em volta dele. O treinador Nunley ainda não via nada.
Deu uma batidinha em seu aparelho de surdez, como se as explosões
estivessem causando interferência, mas não desviou os olhos da revista.
Certamente a escola inteira podia ouvir o barulho. O diretor, a polícia,
alguém iria nos ajudar.
– A vitória será nossa! – rugiu Zé-Mané, o Canibal. – Vamos nos banquetear com seus ossos!
Quis dizer-lhe que ele estava levando o jogo de queimada muito a sério,
mas antes que pudesse fazer isso ele lançou mais uma bola. Os outros
três gigantes fizeram o mesmo. Sabia que estávamos mortos. Tyson não
poderia desviar todas aquelas bolas ao mesmo tempo. Suas mãos deviam
estar com queimaduras sérias por ter bloqueado a primeira saraivada.
Sem a minha espada... Tive uma ideia maluca. Corri em direção ao
vestiário.
– Saiam da frente! – disse a meu time. – Saiam da porta!
Explosões atrás de mim. Tyson rebatera duas das bolas a seus donos e os
fizera explodir em cinzas. Restavam dois gigantes em pé. Uma terceira
bola veio voando diretamente para mim. Eu me forcei a esperar – um,
dois, três – e então me atirei para o lado, enquanto a esfera chamejante
demolia a porta do vestiário. Calculei que o gás acumulado na maioria
dos armários dos meninos seria suficiente para causar uma explosão,
portanto não me surpreendi quando a bola chamejante de queimado provocou
um enorme BUUUUUUM! A parede explodiu. Portas de armários,
meias, suportes atléticos e vários outros apetrechos pessoais fedorentos
choveram por todo o ginásio.
Virei-me bem a tempo de ver Tyson dar um soco na cara do Come-Crânios. O
gigante desmoronou. Mas o último gigante, Zé-Mané, esperto, continuava
segurando sua bola, esperando uma oportunidade. Ele a lançou justamente
quando Tyson se virava para ele.
– Não! – gritei.
A bola atingiu Tyson bem no peito. Ele deslizou por toda a extensão da
quadra e bateu na parede do fundo, que rachou. Parte desmoronou em cima
dele, abrindo um buraco que dava direto para a Rua Church. Não entendia
como Tyson ainda podia estar vivo, mas ele parecia apenas atordoado. A
bola de bronze fumegava a seus pés. Tyson tentou pegá-la, mas caiu para
trás, aturdido, em uma pilha de blocos de concreto.
– Bem! – tripudiou Zé-Mané. – Sou o último de pé! Vou ter carne suficiente para levar uma quentinha para Fofinha!
Ele pegou outra bola e mirou Tyson.
– Pare! – gritei. – É a mim que você quer!
O gigante arreganhou um sorriso.
– Quer morrer primeiro, heroizinho?
Eu precisava fazer alguma coisa. Contracorrente devia estar por ali, em
algum lugar. Então avistei meus jeans em uma pilha fumegante de roupas
bem aos pés do gigante. Se eu ao menos conseguisse chegar lá... Sabia
que era inútil, mas investi. O gigante riu.
– Meu almoço se aproxima.
Ele ergueu o braço para lançar. Eu me preparei para morrer. De repente o
corpo do gigante enrijeceu-se. Sua expressão mudou de triunfante para
surpresa. Bem no lugar onde deveria estar seu umbigo, a camiseta se
rasgou e surgiu ali algo como um chifre – não, um chifre não: a ponta
brilhante de uma lâmina.
– Ui – murmurou ele, e explodiu numa nuvem de chamas verdes, o que,
imaginei, iria deixar Fofinha muito aborrecida. Em pé no meio da fumaça
estava minha amiga Annabeth. Seu rosto estava sujo e arranhado.
Carregava uma mochila esfarrapada pendurada no ombro, o boné de beisebol
enfiado no bolso, uma faca de bronze na mão e um olhar selvagem nos
olhos cinza-tempestade, como se fantasmas a tivessem perseguido por mil
quilômetros. Matt Sloan, que estivera ali em pé, abobalhado, o tempo
todo, afinal caiu na real. Piscou para Annabeth como se a reconhecesse
vagamente da foto no meu caderno.
– É a garota... É a garota...
Annabeth deu-lhe um soco no nariz, derrubando-o no chão.
– E você – disse ela – deixe meu amigo em paz.
O ginásio estava em chamas. Crianças ainda corriam de um lado para o
outro, gritando. Ouvi sirenes que uivavam e uma voz distorcida no
alto-falante. Através das janelas de vidro nas portas de saída pude ver o
diretor, Sr. Bonsai, brigando com a fechadura, e uma multidão de
professores amontoada atrás dele.
– Annabeth... – gaguejei. – Como você... há quanto tempo você...
– Quase a manhã toda. – Ela embainhou a faca de bronze. – Estava
tentando encontrar um bom momento para falar com você, mas você nunca
estava sozinho.
– A sombra que eu vi esta manhã... aquilo era... – Meu rosto ficou
quente. – Ah, meus deuses, você estava olhando pela janela do meu
quarto?
– Não dá tempo de explicar! – disparou com rispidez, embora ela mesma
parecesse estar com o rosto um pouco quente. – Mas eu não queria...
– Ali! – berrou uma mulher. As portas se abriram de repente e os adultos se precipitaram paia dentro.
– Encontre-me lá fora – disse Annabeth. – E ele. – Apontou para Tyson,
que ainda estava sentado encostado na parede, atordoado. Annabeth
lançou-lhe um olhar de aversão que não entendi muito bem. – É melhor
trazê-lo.
– O quê?
– Não dá tempo! – disse ela. – Depressa!
Ela colocou o boné de beisebol dos Yankees, que era um presente mágico
de sua mãe, e desapareceu na mesma hora. Com isso, fiquei sozinho no
meio do ginásio em chamas, quando o diretor investiu para dentro com
metade do corpo docente e dois policiais.
– Percy Jackson? – disse o Sr. Bonsai.
– O que... como...
Junto à parede destruída, Tyson gemeu e levantou-se da pilha de blocos de concreto.
– A cabeça dói.
Matt Sloan também se aproximava. Olhou para mim com expressão de terror.
– Foi Percy quem fez isso, Sr. Bonsai. Ele tocou fogo no prédio inteiro. O treinador Nunley vai lhe contar, ele viu tudo!
O treinador Nunley estivera lendo com dedicação sua revista, mas, para
meu azar, escolheu aquele momento para erguer os olhos, ao ouvir Sloan
pronunciar seu nome.
– Hã? Sim. Hmm-mmm.
Os outros adultos viraram na minha direção. Eu sabia que jamais
acreditariam em mim, mesmo que eu pudesse contar-lhes a verdade.
Arranquei Contracorrente dos meus jeans destruídos, disse a Tyson
"Vamos!" e pulei pelo buraco escancarado na lateral do edifício.
Tá pegando fogo Bixo!
ResponderExcluirComo sempre tudo e culpa do Percy
ResponderExcluirEle não tem culpa coitado 😅
ExcluirAnnabeth
ResponderExcluirMais uma vez salvando o Percy
Fogo no parquinho
ResponderExcluirHhhuuuuuum tyson o gigante
ResponderExcluirPessoas normais lendo: "Ela [Annabeth] é esquisita assim mesmo. Tinha me mandado a foto por e-mail nas férias da primavera..."
ResponderExcluirPercabeth Shippers lendo: "Hmmm, então o Percy se deu o trabalho de IMPRIMIR a foto pra olhar quando quisesse????"
*Sem contar que, inevitavelmente, ela viu o Percy se trocando um monte de vezes. Vai ver é por isso que os dois ficaram tão envergonhados ��.
Eles são tudo mano, meu otp supremo 🛐🛐🛐🛐🛐🛐
ExcluirCara eu, literalmente, pensei a mesma coisa quando li. Demais, só os Percabeth vão entender...
ExcluirSomente Percabeth entendem
ExcluirNenhum professor se transformando em monstro e tentando me matar com comida de cantina envenenada ou dever de casa que explodir.
ResponderExcluirpor isso eu não fasso o tema, ele vai explodir.
meu ovo esquerdo
ResponderExcluirPERERA GAY
ResponderExcluirperera comi meu cu niguem aqui
ResponderExcluirComi meu cu,PEREIRA AQ
ResponderExcluirAlguém comi meu cu
ResponderExcluirMEU NOME É PEREIRA E MORO EM BORACÉIA
meu nome e miguel e cawa estamos na escola edir helem
ResponderExcluirpereira e pedro estudo na escola edir,moro em boracéia e tenho 14 anos e tô no 9 ano A
ResponderExcluirALGUÉM QUER VIR COMER MEU CU?
ResponderExcluirmano mais essa escola deixa os alunos quase se matar, por isso a tia colocou o percy aí já é um teste de sobrevivência ótimo pra um herói
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