Chegamos a Long Island logo depois de Clarisse, graças à capacidade de
deslocamento dos centauros. Cavalguei no lombo de Quíron, mas não
conversamos muito, especialmente sobre Cronos. Eu sabia que tinha sido
difícil para ele me contar. Não queria pressioná-lo com mais perguntas.
Quer dizer, eu conheci uma grande quantidade de parentes embaraçosos,
mas, Cronos, o maligno senhor titã que queria destruir a civilização
ocidental? Não era o tipo de pai que a gente convida para a escola no
"dia da profissão". Quando chegamos ao acampamento, os centauros estavam
ansiosos por conhecer Dioniso. Tinham ouvido falar que ele promovia
festas insanas, mas ficaram desapontados.
O deus do vinho não estava com
disposição para celebrar quando o acampamento inteiro se reuniu no topo
da Colina Meio-Sangue.
O acampamento acabara de passar por duas semanas difíceis. O chalé de artes e ofícios fora totalmente queimado no ataque de um Draco Aionius
(que, até onde pude imaginar, é um nome latino para "enorme lagarto que
faz as coisas irem pelos ares"). Os quartos da Casa Grande estavam
transbordando de feridos. As crianças do chalé de Apolo, que eram os
melhores curandeiros, estiveram trabalhando horas a fio nos primeiros
socorros. Todos pareciam exaustos e maltratados quando nos amontoamos em
volta da árvore de Thalia. No momento em que Clarisse pendurou o
Velocino de Ouro no galho mais baixo, o luar pareceu clarear, passando
de cinzento para um prata-claro. Uma brisa fresca sussurrou entre os
galhos e fez o capim ondular até o vale. Tudo entrou em um foco mais
nítido – a luz dos vaga-lumes nos bosques, o aroma dos campos de
morangos, o som das ondas na praia. Aos poucos, as agulhas do pinheiro
começaram a esverdear, perdendo o tom marrom. Todos vibraram. Estava
acontecendo devagar, mas não havia dúvida – a mágica do Velocino
penetrava na árvore, enchendo-a com uma força nova e expelindo o veneno.
Quíron ordenou vigia vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana, no topo da colina, pelo menos até que pudesse arranjar um
monstro apropriado para proteger o Velocino. Disse que publicaria um
anúncio no Semanário do Olimpo imediatamente.
Nesse meio-tempo, Clarisse foi carregada nos ombros por seus
companheiros de chalé até o anfiteatro, onde foi homenageada com uma
coroa de louros e muita comemoração em volta da fogueira. Ninguém deu a
menor atenção a Annabeth ou a mim. Era como se nunca tivéssemos partido.
Acho que era o melhor agradecimento que poderíamos receber, porque, se
admitissem que tínhamos escapulido furtivamente do acampamento para
realizar a missão, teriam de nos expulsar. E, na verdade, eu não queria
mesmo mais nenhuma atenção. Era boa a sensação de ser apenas um dos
campistas, para variar.
Mais tarde, naquela noite, quando estávamos assando guloseimas e ouvindo
os irmãos Stoll nos contarem uma história de fantasmas sobre um rei
perverso que fora comido vivo por doces demoníacos no café da manhã,
Clarisse me empurrou por trás e sussurrou ao meu ouvido:
– Não é porque você foi legal uma vez, Jackson, que está fora de perigo
com Ares. Ainda estou esperando a oportunidade certa para transformá-lo
em pó.
Dei-lhe um sorriso de má vontade.
– O quê? – perguntou ela.
– Nada – disse eu. – É bom estar em casa.
Na manhã seguinte, depois que os pôneis de festa partiram de volta para a
Flórida, Quíron fez um aviso de surpresa: as corridas de bigas seriam
realizadas conforme programado. Todos tínhamos imaginado que elas
ficariam para trás, já que Tântalo se fora, mas completá-las parecia ser
a coisa certa a fazer, especialmente agora que Quíron estava de volta e
o acampamento estava seguro. Tyson não ficou muito entusiasmado com a
ideia de entrar novamente numa biga depois da nossa primeira
experiência, e ficou feliz em deixar que eu formasse uma equipe com
Annabeth. Eu conduziria, Annabeth defenderia e Tyson atuaria como nosso
mecânico de pit-stop
Enquanto eu trabalhava com os cavalos, Tyson consertou a carruagem de
Atena e acrescentou todo um pacote de modificações especiais. Passamos
os dois dias seguintes treinando como loucos. Annabeth e eu concordamos
que, caso vencêssemos, o prêmio de nenhum trabalho na cozinha durante um
mês inteiro seria dividido entre nossos dois chalés. Como Atena tinha
mais campistas, teria a maior parte da folga, o que, por mim, estava
o.k.
Eu não me importava com o prêmio. Só queria vencer.
Na noite anterior à corrida, fiquei acordado até tarde nos estábulos.
Estava conversando com nossos cavalos, dando-lhes as instruções finais,
quando alguém bem atrás de mim disse:
– Belos animais, os cavalos. Gostaria de ter pensado neles.
Um cara de meia-idade em uniforme dos correios estava encostado na porta
do estábulo. Era magro, com cabelo preto encaracolado embaixo do elmo
branco, e carregava um malote postal pendurado no ombro.
– Hermes? – gaguejei.
– Olá, Percy. Não me reconheceu sem as roupas de corrida?
– Ahn...
Eu não sabia muito bem se deveria me ajoelhar, comprar selos ou o quê. Então me ocorreu por que ele devia estar ali.
– Ah!, escute, senhor Hermes, quanto a Luke...
O deus arqueou as sobrancelhas.
– Ahn, nós o vimos, tudo bem – disse eu – mas...
– Vocês não conseguiram fazê-lo ouvir a voz da razão?
– Bem, nós tentamos nos trucidar mutuamente em um duelo até a morte.
– Entendo. Você tentou a aproximação diplomática.
– Sinto muito mesmo. Quer dizer, você nos deu aqueles presentes
impressionantes e tudo. E eu sei que você queria que Luke voltasse.
Mas... ele se tornou mau. Mau mesmo, pra valer. Ele disse que tem a sensação de que você o abandonou.
Esperei Hermes ficar furioso. Imaginei que ele me transformaria em um
hamster ou coisa assim, e eu não tinha a menor vontade ser de novo um
roedor. Em vez disso, ele apenas suspirou.
– Você já teve a impressão de que seu pai o abandonou, Percy?
Ai, ai, ai. Tive vontade de dizer: "Só algumas centenas de vezes por
dia.” Eu não falava com Poseidon desde o último verão. Nunca estivera
sequer em seu palácio submarino. E também havia toda aquela coisa com
Tyson – nenhum aviso, nenhuma explicação. Simplesmente, bum! Você tem um irmão. É de se imaginar que uma pessoa mereça uma ligaçãozinha para avisar, ou coisa assim.
Quanto mais eu pensava nisso, mais zangado ficava. Percebi que realmente queria
reconhecimento pela missão que completara, mas não dos outros
campistas. Queria que meu pai dissesse alguma coisa. Que reparasse em
mim. Hermes acomodou melhor o malote no ombro.
– Percy, a parte mais difícil de ser um deus é que você, muitas vezes,
precisa agir indiretamente, em especial quando se trata dos próprios
filhos. Se fôssemos interferir todas as vezes em que os nossos filhos
têm um problema... bem, isso só iria criar mais problemas e mais
ressentimento. Mas eu acredito que se você pensar um pouco nisso verá
que Poseidon tem prestado atenção em você. Ele respondeu às suas preces.
Posso apenas esperar que algum dia Luke também perceba isso em relação a
mim. Quer você ache que teve sucesso, quer não, lembrou a Luke quem era
ele. Você falou com ele.
– Eu tentei matá-lo.
Hermes encolheu os ombros.
– Famílias são complicadas. Famílias imortais são eternamente
complicadas. As vezes, o melhor que podemos fazer é lembrar um ao outro
que somos aparentados, aconteça o que acontecer... e tentar limitar ao
mínimo as mortes e mutilações.
Aquilo não pareceu exatamente uma receita para a família perfeita. Mas,
por outro lado, pensando na minha missão, percebi que talvez Hermes
estivesse certo. Poseidon enviara os cavalos-marinhos para nos ajudar.
Ele me dera poderes sobre o mar de que nunca ouvira falar antes. E havia
Tyson. Será que Poseidon nos pusera juntos de propósito? Quantas vezes
Tyson salvara minha vida naquele verão? À distância, soou a trombeta de
concha, anunciando a hora de recolher.
– Você precisa ir para a cama – disse Hermes. – Eu já o ajudei a se
meter em encrencas suficientes este verão. Na verdade, só vim para fazer
esta entrega.
– Uma entrega?
– Eu sou o mensageiro dos deuses, Percy. – Ele tirou um aparelho
de protocolo eletrônico de sua mala postal e entregou para mim. – Assine
aqui, por favor.
Peguei a caneta do aparelho antes de perceber que nela havia um par de minúsculas serpentes verdes entrelaçadas.
– Ah!
Deixei a caneta cair.
Ai!, disse George.
Realmente, Percy, ralhou Martha. Você gostaria de ser derrubado no chão de um estábulo?
– Ah!, ahn, desculpe.
Eu não gostava muito de tocar em serpentes, mas peguei de novo o
aparelho e a caneta. Martha e George se retorceram embaixo dos meus
dedos formando uma espécie de apoio para lápis, como os que meu
professor de educação especial me fazia usar na segunda série.
Você me trouxe um rato?, perguntou George.
– Não... – disse eu. – Nós, ahn, não encontramos nenhum.
E um porquinho-da-índia?
George!, repreendeu Martha. Não provoque o menino.
Assinei e devolvi o aparelho para Hermes. Em troca, ele me entregou um
envelope azul-mar. Meus dedos tremeram. Mesmo antes de abrir, percebi
que era do meu pai. Pude sentir seu poder no papel azul frio, como se o
próprio envelope tivesse sido dobrado com uma onda do oceano.
– Boa sorte amanhã – disse Hermes. – É uma bela parelha de cavalos que
você tem ali, mas vai ter de me desculpar se eu torcer pelo chalé de
Hermes.
E não fique desanimado demais depois de ler isto, meu querido, disse Martha. Ele de fato se preocupa com você.
– O que você quer dizer? – perguntei.
Não ligue para ela, disse George. E da próxima vez, lembre-se, as serpentes trabalham por gorjetas.
– Já basta, vocês dois – disse Hermes. – Adeus, Percy. Por enquanto.
Pequenas asas brancas brotaram em seu elmo. Ele começou a brilhar, e eu
sabia o bastante sobre os deuses para desviar os olhos antes que ele
revelasse sua verdadeira forma divina. Com um brilhante clarão branco,
ele se foi, e fiquei sozinho com os cavalos. Olhei para o envelope azul
em minhas mãos. Estava endereçado em uma caligrafia forte, mas elegante,
que eu já vira uma vez, em um pacote que Poseidon me enviara no último
verão.
Percy Jackson
Acampamento Meio-Sangue
Fram Road, 3.141
Long Island,
Nova York, 11954
Uma carta de verdade do meu pai. Talvez ele dissesse que eu tinha feito
um bom trabalho ao conseguir o Velocino. Explicasse a respeito de Tyson,
ou pedisse desculpas por não ter falado comigo antes. Havia tantas
coisas que eu gostaria que estivessem naquela carta. Abri o envelope e
desdobrei o papel. Era simples o que estava escrito no meio da página:
Prepare-se
Na manhã seguinte, estava todo mundo aos cochichos sobre a corrida de
bigas, embora ficassem olhando nervosamente para o céu como se
esperassem ver pássaros de Estinfália se reunindo. Não apareceu nenhum.
Era um lindo dia de verão, com céu azul e muito sol. O acampamento
começava a ter a aparência que deveria: as campinas estavam verdes e
luxuriantes; as colunas brancas reluziam nos edifícios gregos; dríades
brincavam alegres nos bosques. E eu me sentia infeliz. Ficara acordado a
noite inteira, pensando no aviso de Poseidon. Prepare-se. Quer dizer, ele se dá ao trabalho de escrever uma carta e escreve apenas aquilo?
Martha, a serpente, me dissera para não ficar desapontado. Talvez
Poseidon tivesse uma razão para ser tão vago. Talvez não soubesse
exatamente sobre o que estava me advertindo, mas sentisse que algo
grandioso estava prestes a acontecer – algo que poderia me deixar
completamente arrasado, a não ser que estivesse preparado.
Foi difícil, mas tentei voltar meus pensamentos para a corrida. Enquanto
Annabeth e eu nos encaminhávamos para a pista não pude deixar de
admirar o trabalho que Tyson fizera na biga de Atena. A carruagem
reluzia com seus reforços de bronze. As rodas tinham sido realinhadas
com uma suspensão mágica que deslizávamos sem um solavanco sequer. O
arreamento dos cavalos estava tão perfeitamente equilibrado que a
parelha virava ao mais leve puxão nas rédeas. Tyson fizera dois dardos
para nós, cada qual com três botões no cabo. O primeiro botão preparava o
dardo para explodir com o impacto, liberando um arame farpado que se
embaraçaria nas rodas de um oponente e as despedaçaria. O segundo botão
produzia uma ponta de bronze rombuda (mas ainda assim muito dolorosa)
projetada para derrubar o auriga. O terceiro botão produziria um arpéu
que poderia ser usado para travar a carruagem do inimigo ou empurrá-la
para longe.
Calculei que estávamos em excelente condição para a corrida, mas Tyson
assim mesmo me advertiu para ser cuidadoso. As equipes das outras
carruagens tinham truques à beça para puxar dos seus mantos.
– Aqui – disse ele pouco antes de começar a corrida.
Ele me entregou um relógio de pulso. Não havia nele nada de especial –
apenas um mostrador branco e prata e uma pulseira de couro preto – mas
assim que o vi percebi que era naquilo que eu o vira trabalhar durante
todo o verão. Normalmente não uso relógio. Que importância tem saber as
horas? Mas não podia dizer não a Tyson.
– Obrigado, parceiro. – Coloquei-o no pulso e descobri que era
surpreendentemente leve e confortável. Eu mal sentia que o estava
usando.
– Não consegui terminá-lo em tempo para a viagem – murmurou Tyson. – Desculpe, desculpe.
– Ei, cara. Não é importante.
– Se precisar de proteção na corrida – aconselhou ele – aperte o botão.
– Ah, legal!
Não vi como a hora certa poderia ajudar grande coisa, mas fiquei
comovido por Tyson ter se preocupado. Prometi a ele que me lembraria do
relógio.
– E... ei, ahn, Tyson...
Ele olhou para mim.
– Eu queria dizer, bem...
Tentei imaginar como me desculpar por ter sentido vergonha dele antes da
missão, por ter dito a todos que ele não era meu irmão de verdade. Não
foi fácil encontrar as palavras.
– Eu sei o que você vai me dizer – disse Tyson, parecendo encabulado. – Poseidon, no fim das contas, se preocupava comigo.
– Ahn, bem...
– Ele mandou você para me ajudar. Exatamente o que eu pedi.
Eu pisquei.
– Você pediu... a mim para Poseidon?
– Pedi um amigo – disse Tyson, torcendo a camisa nas mãos. – Os jovens
ciclopes crescem sozinhos nas ruas, aprendem a fazer coisas com sucata.
Aprendem a sobreviver.
– Mas isso é tão cruel!
Ele sacudiu a cabeça com vigor.
– Isso nos faz apreciar nossas bênçãos, não ser gananciosos, maus e
gordos como Polifemo. Mas eu ficava com medo. Os monstros me perseguiram
tanto, às vezes me machucavam com suas garras...
– As cicatrizes nas suas costas?
Uma lágrima surgiu no olho dele.
– A esfinge da Rua Setenta e Dois. Grande encrenqueira. Pedi ajuda ao
papai. Logo o pessoal de Meriwether me encontrou. Conheci você. A maior
bênção de todas. Sinto por ter dito que Poseidon era mau. Ele me mandou
um irmão.
Olhei para o relógio que Tyson me dera.
– Percy! – chamou Annabeth. – Vamos!
Quíron estava junto à linha de partida, pronto para soprar a concha.
– Tyson... – falei.
– Vá – disse Tyson. – Vocês vão vencer!
– Eu... sim, certo, grandão. Vamos vencer esta por você.
Subi na biga e fiquei em posição bem na hora em que Quíron deu a
largada. Os cavalos sabiam o que fazer. Disparamos pela pista tão
depressa que eu teria caído da carruagem se meus braços não tivessem
enrolado nas rédeas de couro. Annabeth se segurou firme no parapeito. As
rodas deslizavam lindamente. Entramos na primeira curva com uma biga
inteira de vantagem sobre Clarisse, que estava ocupada tentando se
defender de um ataque de dardo dos irmãos Stoll na biga de Hermes.
– Nós os pegamos – gritei, mas foi cedo demais.
– Chegando! – gritou Annabeth.
Ela lançou seu primeiro dardo no modo arpéu, jogando longe uma rede com
pesos de chumbo que teria envolvido nós dois. A carruagem de Apolo
chegara ao nosso lado. Antes que Annabeth pudesse se armar de novo, o
guerreiro de Apolo lançou um dardo contra nossa roda direita. O dardo se
despedaçou, mas não sem antes arrebentar um dos raios. Nossa biga deu
uma guinada brusca e oscilou. Tive certeza de que a roda iria se
desintegrar de vez, mas de algum modo continuamos em frente. Instiguei
os cavalos a manter a velocidade. Estávamos agora pescoço com pescoço
com Apolo. Hefesto vinha logo depois. Ares e Hermes estavam ficando para
trás, lado a lado enquanto Clarisse enfrentava Connor Stoll de espada
contra dardo. Se fôssemos atingidos mais uma vez na roda, sabia que
iríamos capotar.
– Você é meu! – gritou o auriga de Apolo. Era um campista de primeiro
ano. Não me lembro do seu nome, mas certamente tinha autoconfiança.
– Ah, tá! – Annabeth gritou de volta. Ela pegou o segundo dardo – um
grande risco, considerando que ainda tínhamos uma volta completa pela
frente – e o lançou contra o auriga de Apolo.
A pontaria foi perfeita. A ponta rombuda surgiu bem no momento em que o
dardo atingiu o auriga no peito, derrubando-o sobre o parceiro e fazendo
os dois tombarem da carruagem num salto-mortal para trás. Os cavalos
sentiram as rédeas afrouxarem e enlouqueceram, galopando direto para a
multidão. Campistas correram procurando proteção enquanto os cavalos
passaram no canto das arquibancadas e a biga dourada virou. Os animais
galoparam de volta para o estábulo, arrastando a carruagem emborcada
atrás deles. Consegui manter nossa biga inteira ao longo da segunda
curva, a despeito dos gemidos da roda direita. Passamos pela linha de
partida e entramos trovejando na volta final. O eixo rangia e chiava. A
roda instável estava nos fazendo perder velocidade, muito embora os
cavalos respondessem a todos os meus comandos, correndo como uma máquina
bem lubrificada. A equipe de Hefesto continuava avançando. Beckendorf
sorriu ao pressionar um botão no seu painel de controle. Cabos de aço
foram lançados da frente de seus cavalos mecânicos e se enroscaram na
traseira de nossa biga. A carruagem estremeceu quando o sistema de
guincho de Beckendorf começou a funcionar – arrastando-nos para trás
enquanto Beckendorf era puxado para a frente.
Annabeth praguejou e puxou sua faca. Ela golpeou os cabos, mas eram grossos demais.
– Não consigo cortá-los! – gritou. A carruagem de Hefesto estava agora
perigosamente próxima, os cavalos a ponto de nos esmagar com os cascos.
– Troque comigo! – disse a Annabeth. – Pegue as rédeas!
– Mas...
– Confie em mim!
Ela passou para a frente e agarrou as rédeas. Eu me virei, num esforço
para manter o equilíbrio, e destampei Contracorrente. Dei um golpe para
baixo e os cabos arrebentaram como linha de pipa. Fomos lançados para a
frente, mas o auriga de Beckendorf simplesmente deu uma guinada para a
esquerda e encostou a biga ao nosso lado. Beckendorf puxou sua espada.
Ele desferiu um golpe contra Annabeth, e eu o desviei. Estávamos
entrando na última curva. Jamais conseguiríamos. Eu precisava
desestabilizar a carruagem de Hefesto e tirá-la do caminho, mas também
tinha de proteger Annabeth. Beckendorf era um cara legal, mas isso não
significava que ele não iria mandar nós dois para a enfermaria se
baixássemos a guarda. Estávamos agora pescoço com pescoço, Clarisse se
aproximando atrás, recuperando o tempo perdido.
– Até mais, Percy! – gritou Beckendorf.
– Aí vai um presentinho de despedida!
Ele atirou uma bolsa de couro em nossa biga. Aquilo grudou imediatamente no piso e começou a soltar uma fumaça verde.
– Fogo grego! – gritou Annabeth.
Eu praguejei. Tinha ouvido histórias sobre o que o fogo grego era capaz
de fazer. Calculei que teríamos talvez dez segundos antes que aquilo
explodisse.
– Livre-se dele! – gritou Annabeth. Mas eu não podia. A carruagem de
Hefesto ainda estava ao lado, aguardando até o último segundo para se
certificar de que seu presentinho explodiria. Beckendorf me mantinha
ocupado com sua espada. Se eu baixasse a guarda por tempo suficiente
para lidar com o fogo grego, Annabeth seria fatiada, e nós nos
arrebentaríamos de um jeito ou de outro. Tentei chutar a bolsa de couro
para longe, mas não consegui. Ela estava bem grudada. Então me lembrei
do relógio. Não sabia como aquilo poderia ajudar, mas consegui apertar o
botão do cronômetro.
No mesmo instante o relógio se transformou. Expandiu-se, o aro de metal
girando para fora como um obturador de máquina fotográfica antiga, e uma
correia de couro se enrolou em torno do meu antebraço até que me vi
segurando um escudo de guerra redondo com um metro e meio de diâmetro, o
lado de dentro de couro macio, o lado de fora de bronze polido, com
desenhos gravados que não tive tempo de examinar. Tudo o que sabia era
que Tyson se saíra bem. Ergui o escudo e a espada de Beckendorf retiniu
contra ele. Sua lâmina se estilhaçou.
– O quê? – gritou ele. – Como...
Ele não teve tempo de dizer mais nada porque eu o atingi no peito com
meu novo escudo e o fiz voar da carruagem e rolar pela poeira. Eu estava
prestes a usar Contracorrente para golpear o auriga quando Annabeth
gritou:
– Percy!
O fogo grego estava soltando fagulhas. Enfiei a ponta da minha espada
embaixo da bolsa de couro e a usei como espátula. A bomba incendiaria
saiu do lugar e voou para dentro da carruagem de Hefesto, caindo nos pés
do auriga. Ele soltou um ganido. Em uma fração de segundo o auriga fez a
escolha certa: mergulhou da carruagem, que seguiu em diagonal e
explodiu labaredas verdes. Os cavalos de metal pareciam estar em
curto-circuito. Contornaram e arrastaram os destroços em chamas na
direção de Clarisse e dos irmãos Stoll, que tiveram de se desviar para
evitá-los. Annabeth puxou as rédeas para a última curva. Eu me segurei,
certo de que iríamos capotar, mas de algum modo ela conseguiu continuar e
tocou os cavalos pela linha de chegada. Um clamor se ergueu da
multidão. Depois que a carruagem parou, nossos amigos se aglomeraram ao
nosso redor. Começaram a entoar nossos nomes, mas Annabeth gritou, por
cima do barulho:
– Esperem! Escutem! Não fomos apenas nós!
A multidão não queria silenciar, mas Annabeth se fez ouvir:
– Não teríamos conseguido sem outra pessoa! Não poderíamos ter ganhado
esta corrida, nem conseguido o Velocino, nem salvado Grover, nem nada!
Devemos nossas vidas a Tyson...
– Meu irmão! – disse eu, bem alto para todos ouvirem. – Tyson, meu irmãozinho mais novo.
Tyson corou. A multidão delirou. Annabeth me tascou um beijo na
bochecha. Os gritos ficaram ainda muito mais altos depois disso. Todo o
chalé de Atena nos ergueu nos ombros, Annabeth, Tyson e eu – e nos
carregou em direção ao pódio dos vencedores, onde Quíron aguardava para
entregar as coroas de louros.
bejinhooooooooooooooooooooooooo
ResponderExcluirparei pra pensar
ResponderExcluiro Cronos ñ é avo do Percy?
��������
ExcluirSim ué
ExcluirTudo está indo bem! Suspeito... muito, muito suspeito...
ResponderExcluirO pensamento da pessoa KSKSKSKSKS
Excluir– Não é porque você foi legal uma vez, Jackson, que está fora de perigo com Ares. Ainda estou esperando a oportunidade certa para transformá-lo em pó.
ResponderExcluirDei-lhe um sorriso de má vontade.
– O quê? – perguntou ela.
– Nada – disse eu. – É bom estar em casa.
PERCABETH KRLHOU
ResponderExcluirPERCABETH porraaa
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