Estávamos nas sombras da Valência Boulevard, olhando para as letras
douradas gravadas no mármore negro: ESTÚDIOS DE GRAVAÇÃO M.A.C.
Embaixo, impresso nas portas de vidro, PROIBIDA A ENTRADA DE ADVOGADOS, VAGABUNDOS E VIVENTES.
Já era quase meia-noite, mas o saguão estava iluminado e cheio de gente.
Atrás do balcão da segurança estava sentado um guarda de aparência
agressiva, com óculos escuros e um fone de ouvidos.
Virei-me para meus amigos.
– Certo. Vocês se lembram do plano.
– O plano – Grover engoliu seco. – Isso. Adoro o plano.
Annabeth disse:
– O que vai acontecer se o plano não funcionar?
– Sem pensamentos negativos.
– Certo – disse ela. – Estamos entrando na Terra dos Mortos e eu não devo ter
pensamentos negativos.
Tirei as pérolas do bolso, as três esferas cor de leite que a nereida me
dera em Santa Monica. Elas não pareciam um recurso para o caso de algo
dar errado.
Annabeth pôs a mão em meu ombro.
– Desculpe, Percy. Você tem razão, vamos conseguir. Vai dar tudo certo.
Ela deu uma cutucada em Grover.
– Ah, está certo! – concordou ele. – Chegamos até aqui. Vamos encontrar o raio-mestre e salvar sua mãe. Sem problemas.
Olhei para os dois e me senti realmente grato. Alguns minutos antes, eu
quase os tinha feito ser esticados até a morte em camas d’água de luxo, e
agora eles tentavam bancar os corajosos por minha causa, tentavam fazer
com que me sentisse melhor.
Enfiei as pérolas de volta no bolso.
– Vamos chutar alguns traseiros no Mundo Inferior.
Entramos no saguão do M.A.C.
Alto-falantes embutidos tocavam uma música ambiente suave. O carpete e
as paredes eram cinza-chumbo. Cactos cresciam nos cantos como mãos de
esqueletos. Os móveis eram de couro preto, e todos os assentos estavam
ocupados. Havia gente sentada em sofás, gente em pé, gente olhando pela
janela ou aguardando o elevador. Ninguém se mexia, nem falava, não
faziam nada. Com o canto do olho, eu podia vê-los muito bem, mas, se me
concentrasse em qualquer um em particular, eles começavam a parecer...
transparentes. Dava para ver através dos seus corpos.
O balcão da segurança ficava em cima de um degrau, portanto tínhamos de olhar para o alto para falar com o guarda.
Ele era alto e elegante, com pele na cor de chocolate e cabelo tingido
de loiro, cortado em estilo militar. Usava armação de tartaruga e um
terno de seda italiano que combinava com o cabelo. Uma rosa negra estava
presa à lapela, embaixo de um crachá de prata.
Li o nome no crachá e olhei para ele perplexo.
– Seu nome é Quíron?
Ele se inclinou por cima da mesa. Não consegui ver nada em seus óculos
exceto meu próprio reflexo, mas seu sorriso era doce e frio, como o de
uma jiboia exatamente antes de devorar você.
– Que rapaz mais engraçadinho. – Ele tinha um sotaque estranho...
inglês, talvez, mas como se tivesse aprendido inglês como segunda
língua. – Diga-me, parceiro, eu pareço um centauro?
– N-não.
– Senhor – acrescentou ele suavemente.
– Senhor – falei.
Ele segurou o crachá e correu o dedo embaixo das letras.
– Consegue ler isto, parceiro? Aqui diz C-A-R-O-N-T-E. Diga comigo: CA-RON-TE.
– Caronte.
– Fantástico! Agora: senhor Caronte.
– Senhor Caronte – disse eu.
– Muito bem. – Ele se recostou. – Detesto ser confundido com aquele homem-cavalo. E agora, como posso ajudá-los, pequenos defuntos?
A pergunta dele me acertou o estômago como uma bola de beisebol. Olhei para Annabeth em busca de ajuda.
– Queremos ir para o Mundo Inferior – disse ela.
A boca de Caronte repuxou-se.
– Bem, isso é revigorante.
– É mesmo? – perguntou ela.
– Direto e honesto. Sem gritos. Sem "Deve haver algum engano, Sr.
Caronte". – Ele nos olhou de cima a baixo. – Então, como vocês morreram?
Cutuquei Grover.
– Ah – disse ele. – Ahn... afogados... na banheira.
– Os três? – perguntou Caronte.
Nós assentimos.
– Que banheira grande. – Caronte pareceu levemente impressionado. –
Suponho que vocês não têm moedas para passagem. Com adultos, vocês
sabem, eu poderia debitar no cartão de crédito, ou acrescentar o preço
da travessia na sua última conta de telefone. Mas com crianças...
infelizmente, vocês nunca morrem preparadas. Acho que terão de ficar
sentados por alguns séculos.
– Ah, mas nós temos moedas. – Pus três dracmas de ouro sobre o balcão,
parte da provisão que eu encontrara na mesa do escritório de Crosta.
– Ora vejam... – Caronte umedeceu os lábios. – Dracmas de verdade. Não vejo uma dessas faz...
Seus dedos pairaram avidamente sobre as moedas. Estávamos muito perto.
Então Caronte me olhou. O olhar frio atrás dos óculos pareceu abrir um buraco em meu peito.
– Mas você não conseguiu ler meu nome direito. Você é disléxico, rapaz?
– Não. Sou um morto.
Caronte inclinou-se para a frente e deu uma cheirada.
– Você não está morto. Eu devia saber. É um filhote de deus.
– Temos de chegar ao Mundo Inferior – insisti.
Caronte rosnou no fundo da garganta.
No mesmo instante, todas as pessoas na sala de espera se levantaram e
começaram a andar de um lado para outro, agitadas, acendendo cigarros,
passando as mãos pelos cabelos ou olhando para os relógios de pulso.
– Vão embora enquanto podem – disse-nos Caronte. – Vou ficar com estas moedas e esquecer que os vi.
Ele começou a esticar a mão para as moedas, mas eu as puxei de volta.
– Sem serviço, sem gorjeta. – Tentei parecer mais valente do que me
sentia. Caronte rosnou de novo – um som profundo, de gelar sangue. Os
espíritos dos mortos começaram a bater nas portas do elevador.
– É uma pena – suspirei. – Tínhamos mais para oferecer.
Ergui a sacola inteira com o tesouro de Crosta. Tirei um punhado de
dracmas e deixei as moedas escorregarem entre os dedos. O rosnado de
Caronte se transformou em algo mais parecido com um ronronar de leão.
– Acha que pode me comprar, filhote de deus? Ahn... curiosidade, quanto você tem aí?
– Muito – falei. – Aposto que Hades não lhe paga o bastante por um trabalho tão duro.
– Ah, você não sabe nem da metade. Iria gostar de ser babá desses
espíritos o dia inteiro? Sempre com "Por favor, não me deixe ficar
morto" ou "Por favor, deixe-me atravessar de graça”. Não tenho um
aumento há três mil anos. Acha que ternos como este custam barato?
– Você merece coisa melhor – concordei. – Algum reconhecimento. Respeito. Bom salário.
A cada palavra, eu empilhava outra moeda de ouro no balcão. Caronte
baixou os olhos para o paletó de seda italiana, como se estivesse se
imaginando com algo ainda melhor.
– Devo dizer, rapaz, que a gente está começando a falar a mesma língua. Um pouco.
Empilhei mais algumas moedas.
– Eu poderia mencionar um aumento de salário quando estiver falando com Hades.
Ele suspirou.
– Bem, o barco já está quase cheio. Poderia muito bem encaixar vocês três e zarpar.
Ele se pôs de pé, pegou nosso dinheiro e disse:
– Venham comigo.
Abrimos caminho entre a multidão de espíritos que aguardavam, os quais
começaram a puxar nossas roupas como o vento, as vozes sussurrando
coisas que eu não podia distinguir. Caronte empurrou-os do caminho,
resmungando:
– Parasitas.
Ele nos escoltou até o elevador, que já estava apinhado de algumas dos
mortos, todos segurando um cartão de embarque verde. Caronte agarrou
dois espíritos que tentavam entrar conosco e os empurrou de volta para o
saguão.
– Muito bem. Agora, ninguém comece a ter ideias enquanto eu estiver fora
– anunciou ele para a sala de espera. – E se alguém tirar minha estação
de música de sintonia novamente, farei vocês ficarem aqui por outro
milênio. Entendido?
Ele fechou as portas. Enfiou um cartão-chave em uma fenda no painel do elevador e começamos a descer.
– O que acontece com os espíritos que ficam esperando no saguão? – perguntou Annabeth.
– Nada – disse Caronte.
– Por quanto tempo?
– Para sempre, ou até eu me sentir generoso.
– Ah – disse ela. – Isso é... justo.
Caronte ergueu uma sobrancelha.
– Quem disse que a morte era justa, mocinha? Espere até chegar a sua vez. Você vai morrer em pouco tempo, no lugar está indo.
– Vamos sair vivos – falei.
– Ah.
Tive de repente uma sensação de vertigem. Não estávamos mais indo para
baixo, mas para a frente. O ar ficou enevoado. Os espíritos à minha
volta começaram a mudar de forma. Suas roupas modernas tremiam e se
transformavam em mantos cinzentos com capuz. O piso do elevador começou a
oscilar.
Pisquei com força. Quando abri os olhos, o terno creme italiano de
Caronte fora substituído por um longo manto negro. Seus óculos de
tartaruga haviam desaparecido. Onde deviam estar os olhos havia órbitas
vazias – como os olhos de Ares, só que os de Caronte eram totalmente
escuros, repletos de noite, trevas e desespero. Ele me viu olhando e
disse:
– O quê?
– Nada – consegui dizer.
Achei que ele estivesse sorrindo, mas não era isso. A pele de seu rosto
estava ficando transparente, deixando que eu visse até o crânio.
O chão continuou oscilando.
Grover disse:
– Acho que estou ficando enjoado.
Quando pisquei de novo, o elevador não era mais um elevador. Estávamos
dentro de uma barcaça de madeira. Caronte usava uma vara para nos mover
ao longo de um rio escuro, cheio de óleo, com ossos, peixes mortos e
outras coisas estranhas girando na superfície... bonecas de plástico,
cravos esmagados, diplomas encharcados com bordas douradas.
– O rio Styx – murmurou Annabeth. – É tão...
– Poluído – disse Caronte. – Há milhares de anos vocês, seres humanos,
quando o atravessam, jogam tudo nele... esperanças, sonhos, desejos que
jamais se tornam realidade. Um modo irresponsável de tratar seu lixo, se
querem saber.
A névoa subia em espirais da água imunda. Acima de nós, quase perdido
nas sombras, havia um teto de estalactites. A frente, a costa distante
brilhava com uma luz esverdeada, a cor do veneno.
O pânico obstruiu minha garganta. O que eu estava fazendo ali? Aquelas pessoas ao meu redor... estavam mortas.
Annabeth agarrou minha mão. Em circunstâncias normais, isso teria me
embaraçado, mas entendi como ela se sentia. Queria se assegurar de que
mais alguém estava vivo naquele barco.
Percebi que eu murmurava uma oração, embora não soubesse bem para quem
estava rezando. Ali embaixo só um deus importava, e era ele que eu fora
confrontar.
A praia do Mundo Inferior surgiu à vista. Rochas escarpadas e areia
vulcânica negra se estendiam terra adentro por cerca de cem metros até
um muro alto de pedra, que se prolongava para os lados até onde a vista
podia alcançar. De algum lugar por perto nas sombras verdes, veio um
som, reverberando nas pedras – o uivo de um grande animal.
– O velho Três-Caras está com fome – disse Caronte. Seu sorriso se
tornou esquelético à luz esverdeada. – Má sorte para vocês, filhotes de
deuses.
O fundo do nosso barco deslizou sobre a areia preta. Os mortos começaram
a desembarcar. Uma mulher segurando a mão de uma menininha. Um casal de
idosos capengando lentamente, de braços. Um menino que não era mais
velho que eu arrastava os pés em silêncio em seu manto cinzento.
Caronte disse:
– Eu lhe desejaria sorte, parceiro, mas isso não existe por aqui. Lembre-se, não deixe de mencionar meu aumento de salário.
Ele contou nossas moedas de ouro em sua bolsa, depois a vara. Gorjeou
algo que parecia uma canção de Barry Manilow enquanto empurrava a
barcaça de volta através do rio.
Seguimos os espíritos por um caminho já muito percorrido.
Não sei muito bem o que estava esperando – os Portões do Céu, uma ponte
levadiça grande e escura ou coisa assim. Mas a entrada para o Mundo
Inferior parecia uma mistura de segurança de aeroporto com a autoestrada
de New Jersey.
Havia três entradas separadas embaixo de um enorme arco negro que dizia
VOCÊ ESTÁ ENTRANDO EM ÉREBO. Em cada entrada havia um detector de metais
com câmeras de segurança instaladas no alto. Depois disso, havia
cabines de pedágio operadas por espíritos como Caronte.
Os uivos de animal faminto eram agora muito altos, mas eu não conseguia
ver de onde vinham. O cão de três cabeças, Cérbero, que deveria guardar a
porta do Hades, não estava em lugar nenhum.
Os mortos formaram três filas, duas identificadas como ATENDENTE DE
SERVIÇO e uma como MORTE ESPRESSA. A fila MORTE EXPRESSA estava
avançando sem parar. As outras duas se arrastavam.
– O que você imagina? – perguntei a Annabeth.
– A fila rápida deve ir diretamente para os Campos Asfódelos – disse
ela. – Sem contestação. Eles não querem se arriscar ao julgamento do
tribunal, porque pode ir contra eles.
– Existe um tribunal para gente morta?
– Sim. Três juízes. Eles se revezam na magistratura. O rei Minos, Thomas
Jefferson, Shakespeare... pessoas assim. Às vezes olham para uma vida e
concluem que aquela pessoa precisa de uma recompensa especial: os Campos
Elísios. Às vezes decidem por um castigo. Mas a maioria das pessoas,
bem, elas apenas viveram. Nada de especial, nem bom nem mau. Então vão
para os Campos Asfódelos.
– E fazem o quê?
Grover disse:
– Imagine-se em um campo de trigo no Kansas. Para sempre.
– Dureza – disse eu.
– Não tanto quanto aquilo – murmurou Grover. – Olhe.
Uma dupla de vultos de mantos negros havia puxado um espírito para o
lado e o estava revistando junto à mesa da segurança. O rosto do morto
parecia vagamente familiar.
– Ele é o pregador que saiu no noticiário, está lembrado? – perguntou Grover.
– Ah, sim – eu lembrava. Nós o tínhamos visto na tevê uma ou duas vezes
no dormitório da Academia Yancy. Era um tele-evangelista chato do norte
do estado de Nova York que arrecadara milhões de dólares para orfanatos e
depois foi pego gastando o dinheiro em artigos para a sua mansão, como
assentos de privada folheados a ouro e um campo de minigolfe. Morrera
numa perseguição da polícia quando seu "Lamborghini abençoado" despencou
de um penhasco.
– O que estão fazendo com ele? – perguntei.
– O castigo especial de Hades – adivinhou Grover. – As pessoas realmente
más recebem atenção particular dele quando chegam. As Fúr... as
Benevolentes vão preparar uma tortura para ele.
Pensar nas Fúrias me fez estremecer. Percebi que naquele momento estava
no território delas. A velha Sra. Dodds devia estar lambendo os beiços
de expectativa.
– Mas se ele é um pregador – falei – e acredita em um inferno diferente...
Grover encolheu os ombros.
– Quem disse que ele está vendo este lugar do mesmo modo que nós? Os
seres humanos veem o que querem ver. Vocês são muito teimosos... ahn,
persistentes, nisso.
Chegamos mais perto dos portões. Os uivos ali eram tão altos que
sacudiam o chão embaixo de meus pés, mas ainda assim eu não conseguia
perceber de onde vinham. Então, cerca de quinze metros à nossa frente, a
névoa verde tremulou. Exatamente no lugar onde o caminho se dividia em
três estava um monstro enorme e indistinto.
Eu não o tinha visto antes porque ele era meio transparente, como os
mortos. Até se mexer, sua imagem se fundia com o quer que estivesse
atrás dele. Somente os olhos e os dentes pareciam sólidos. Ele estava me
encarando.
Meu queixo caiu. Tudo o que pude pensar em dizer foi:
– É um rottweiler.
Sempre imaginara Cérbero como um grande mastim preto. Mas ele era
obviamente um rottweiler de raça pura, a não ser, é claro, por ter duas
vezes o tamanho de um mamute, ser quase invisível e ter três cabeças.
Os mortos andavam na direção dele – sem nenhum medo. As filas das placas
ATENDENTE EM SERVIÇO se separavam, cada uma para um lado do monstro. Os
espíritos de MORTE EXPRESSA caminhavam direto por entre as patas da
frente e por baixo da barriga, o que podiam fazer sem sequer se abaixar.
– Estou começando a vê-lo melhor – murmurei. – Por que será?
– Acho... – Annabeth umedeceu os lábios. – Sinto muito, mas acho que é porque estamos mais perto de ser pessoas mortas.
A cabeça do meio do cão se esticou em nossa direção. Ele farejou o ar e rosnou.
– Ele consegue farejar os vivos – falei.
– Mas está tudo bem – disse Grover, trêmulo ao meu lado. Porque temos um plano.
– Certo – disse Annabeth. Nunca tinha ouvido a voz dela soar tão baixa. – Um plano.
Avançamos na direção do monstro. A cabeça do meio rosnou para nós, depois latiu tão alto que minhas pupilas chacoalharam.
– Você consegue entender? – perguntei a Grover.
– Ah, sim – disse ele. – Eu consigo entender.
– O que ele está dizendo?
– Não acredito que os seres humanos possuam um palavrão tão grande assim.
Peguei um pedaço de madeira que tinha na mochila – um pé de cama que eu
tinha arrancado de um modelo em exposição de Crosta, a Safári Deluxe.
Segurei-o no alto e tentei canalizar pensamentos caninos felizes para o
Cérbero – comerciais de ração, cães engraçadinhos, postes. Tentei
sorrir, como se não estivesse prestes a morrer.
– Ei, garotão – gritei. – Aposto que eles não brincam muito com você aqui.
"GRRRRRRRRRAUl"
– Bom menino – falei, fraquejando.
Acenei o bastão. A cabeça do meio do cão acompanhou o movimento. As
outras duas fixaram os olhos em mim, ignorando completamente os
espíritos. Eu tinha toda a atenção de Cérbero. Não sabia muito bem se
isso era bom.
– Vá buscar! – atirei o bastão para as sombras, um lançamento perfeito. Ouvi o
tibum! no Estige.
Cérbero me olhou, feroz, nada impressionado. Os olhos eram cheios de ódio e frios. Fim do plano.
O monstro agora produzia um novo tipo de rosnado, mais profundo nas suas três gargantas.
– Ahn – disse Grover. – Percy?
– Sim?
– Apenas achei que você gostaria de saber.
– Sim?
– Cérbero... Ele está dizendo que temos dez segundo rezar para o deus que escolhermos. Depois disso... bem... ele está com fome.
– Espere! – disse Annabeth. Ela começou a revirar sua mochila.
Epa, pensei.
– Cinco segundos – disse Grover. – Corremos agora?
Annabeth surgiu com uma bola de borracha vermelha do tamanho de uma
grapefruit. A etiqueta dizia PARQUE AQUÁTICO AQUALÂNDIA – DENVER,
COLORADO.
Antes que eu pudesse impedi-a, ergueu a bola e marchou na direção de Cérbero. Ela gritou:
– Está vendo a bola? Quer a bola, Cérbero? Senta!
Cérbero parecia tão perplexo quanto nós.
As três cabeças se inclinaram de lado. Seis narinas se dilataram.
– Senta! – gritou Annabeth outra vez.
Eu tinha certeza de que a qualquer momento ela se transformaria no maior biscoito para cachorro do mundo.
Em vez disso, porém, Cérbero lambeu seus três pares de lábios, sacudiu o
traseiro e sentou, esmagando imediatamente uma dúzia de espíritos que
passavam por baixo dele na fila MORTE EXPRESSA. Os espíritos produziram
um chiado abafado ao se dissipar, como ar escapando de pneus.
– Bom menino! – disse Annabeth.
E atirou a bola para Cérbero. Ele a agarrou com a boca do meio. A bola
mal tinha tamanho suficiente para ele morder, e as outras cabeças
começaram a avançar na do meio, tentando pegar o novo brinquedo.
– Solta! – ordenou Annabeth.
As cabeças de Cérbero pararam de brigar e olharam para ela. A bola
estava presa entre dois dos seus dentes como um pedacinho de chiclete.
Ele soltou um lamento alto e assustador, depois largou a bola, gosmenta e
quase rasgada no meio, aos pés de Annabeth.
– Bom menino. – Annabeth pegou a bola, ignorando a baba de monstro.
Ela se virou para nós.
– Vão, agora. Fila da MORTE EXPRESSA... essa anda mais rápido.
– Mas... – argumentei.
– Agora! – ordenou ela, no mesmo tom que estava usando com o cão.
Grover e eu avançamos devagarzinho, cautelosos. Cérbero começou a rosnar.
– Fica! – ordenou Annabeth ao monstro. – Se quer a bola, fica!
Cérbero ganiu, mas ficou onde estava.
– E você? – perguntei a Annabeth quando passamos por ela.
– Sei o que estou fazendo, Percy – murmurou ela. – Pelo menos, tenho quase certeza...
Grover e eu seguimos por entre as pernas do monstro.
Por favor, Annabeth, eu rezei. Não o mande sentar de novo.
Conseguimos passar. Cérbero não era menos assustador visto de trás.
– Bom cachorro! – disse Annabeth.
Ela ergueu a bola vermelha esfrangalhada e, provavelmente, chegou à
mesma conclusão que eu – se recompensasse Cérebro, não restaria nada
para mais um truque.
Assim mesmo, ela jogou a bola. A boca esquerda do monstro a agarrou
imediatamente, só para ser atacada pela cabeça do meio enquanto a cabeça
da direita gemia em protesto.
Enquanto o monstro estava distraído, Annabeth marchou energicamente por
baixo da barriga dele e juntou-se a nós perto do detector de metais.
– Como fez aquilo? – perguntei, admirado.
– Aula de adestramento – disse ela sem fôlego, e fiquei surpreso ao ver
que havia lágrimas em seus olhos. – Quando eu pequena, na casa do meu
pai, nós tínhamos um dobermann...
– Não tem importância – disse Grover puxando minha camisa. – Vamos!
Estávamos a ponto de disparar pela fila de MORTE EXPRESSA quando Cérbero
gemeu de dar dó, com todas as três bocas. Annabeth parou.
Cérbero arfava ansioso, a pequenina bola vermelha despedaçada em uma lagoa de baba a seus pés.
– Bom menino – disse Annabeth, mas sua voz pareceu melancólica e insegura.
As cabeças do monstro se inclinaram, como se ele estivesse preocupado com ela.
– Logo vou trazer uma bola nova para você – prometeu Annabeth, insegura. – Você quer?
O monstro choramingou. Eu não precisava falar língua de cachorro para saber que Cérbero ainda estava esperando a bola.
– Bom cachorro. Venho logo visitar você. Eu... eu prometo. – Annabeth virou-se para nós. – Vamos.
Grover e eu passamos pelo detector de metais, que imediatamente soou e disparou a piscar luzes vermelhas.
"Pertences não autorizados! Mágica detectada!"
Cérbero começou a latir.
Nós nos lançamos pelo portão MORTE EXPRESSA, o que disparou ainda mais
alarmes, e corremos para dentro do Mundo Inferior. Alguns minutos
depois, estávamos nos escondendo, sem fôlego, no tronco apodrecido de
uma imensa árvore negra, enquanto os espíritos da segurança passavam
correndo, berrando pela ajuda das Fúrias.
Grover murmurou:
– Bem, Percy, o que aprendemos hoje?
– Que cães de três cabeças preferem bolas de borracha a pedaços de pau?
– Não – disse Grover. – Aprendemos que seus planos são muito, muito ruins!
Eu não tinha essa certeza. Talvez fosse o caso de eu e Annabeth termos
tido a ideia certa. Mesmo ali, no Mundo Inferior, todo mundo – até mesmo
os monstros – precisa de um pouco de atenção de vez em quando.
Pensei nisso enquanto esperávamos que os espíritos passassem. Fingi que
não vi Annabeth enxugar uma lágrima ao ouvir o lamento triste de Cérbero
a distância, sentindo falta da nova amiga.
Tadinho de Cérbero ❤😭
ResponderExcluirA Annabeth deu falsas esperanças de que ia trazer outra bola para ele.
ExcluirPobre Cerbero
ResponderExcluirPobre sim
ResponderExcluirChega perto dele para ver o tadinho
Mano sei que o cérebro e o demônio jkjkkk, mas coitadinho mano, que vontade de dar um afago nele
ResponderExcluirAté hoje o Cérbero espera a Annabeth voltar com outra bola 😭😭
ResponderExcluircoitadoooooo do do Cérbero eperando ela voltar com a bola
ResponderExcluirbora marcar de surrar o criador de percy jackson, pra q ele de uma bola p cérbero
ResponderExcluirRick Riordan
ExcluirTadinho kkk
ResponderExcluirTadinho do cérbero
ResponderExcluir– Detesto ser confundido com aquele homem-cavalo. E agora, como posso ajudá-los, pequenos defuntos?
ResponderExcluirpequenos defuntos, gostei desse apelido kkkkk
Mesmo ali, no Mundo Inferior, todo mundo – até mesmo os monstros – precisa de um pouco de atenção de vez em quando.
ResponderExcluirPensei nisso enquanto esperávamos que os espíritos passassem. Fingi que não vi Annabeth enxugar uma lágrima ao ouvir o lamento triste de Cérbero a distância, sentindo falta da nova amiga.
nova amiga super gente boa
annabeth chorando
Excluirtadinho do Cérbero
ResponderExcluirTadinho mn 🥺
ResponderExcluir