Na sexta-feira anterior às férias de inverno minha mãe arrumou uma
sacola de viagem e algumas armas letais para mim e me levou para um novo
internato. No caminho pegamos minhas amigas Annabeth e Thalia.
Eram oito horas de carro de Nova York até Bar Harbor, Maine. Chuva e
neve castigavam a rodovia. Annabeth, Thalia e eu não nos víamos fazia
meses, mas em meio à tempestade e à ideia do que estávamos prestes a
fazer nos sentíamos nervosos demais para conversar muito. A exceção era
minha mãe. Ela fala mais quando está nervosa.
Quando finalmente chegamos a Westover Hall, já estava escurecendo e ela
havia contado a Annabeth e Thalia todas as histórias embaraçosas de bebê
que havia para contar a meu respeito.
Thalia limpou o vidro embaçado do carro e olhou para fora.
– Ah, sim! Isso vai ser divertido.
Westover Hall parecia o castelo de um cavaleiro malvado. Era toda de
pedras pretas, com torres e janelas em fenda, e um grande conjunto de
portas duplas de madeira. Ficava sobre um penhasco nevado que dava para
uma grande floresta gelada de um lado e o oceano cinzento e turbulento
do outro.
– Vocês têm certeza de que não querem que eu espere? – perguntou minha mãe.
– Não, mãe, obrigado – disse eu. – Não sei quanto tempo vai levar. Vai dar tudo certo.
– Mas como vocês vão voltar? Estou preocupada, Percy.
Esperei não estar corando. Já era bastante ruim ter de depender da minha mãe para me levar para as minhas batalhas.
– Está tudo bem, senhora Jackson. – Annabeth sorriu tranquilizadora.
Seus cabelos loiros estavam enfiados em um gorro de esquiador e seus
olhos cinzentos eram da mesma cor do oceano. – Nós vamos mantê-lo longe
de encrencas.
Minha mãe pareceu relaxar um pouco. Ela acha que Annabeth é a semideusa
mais sensata que já conseguiu chegar à oitava série. Está certa de que
Annabeth quase sempre evita que eu seja morto. Tem razão, mas isso não
quer dizer que eu tenha de gostar disso.
– Está bem, queridos – disse minha mãe. – Vocês têm tudo o que precisam?
– Sim, senhora Jackson – disse Thalia. – Obrigada pela carona.
– Pulôveres de reserva? Vocês têm o número do meu celular?
– Mãe…
– A sua ambrosia e o seu néctar, Percy? E um dracma de ouro para o caso de você precisar entrar em contato com o acampamento?
– Mãe, é sério! Tudo vai dar certo. Vamos, meninas.
Ela pareceu um pouco magoada, e eu senti uma ponta de arrependimento por
isso, mas estava pronto para sair daquele carro. Se minha mãe contasse
mais uma história sobre a gracinha que eu era no banho quando tinha três
anos eu ia me enterrar na neve e morrer congelado.
Annabeth e Thalia me seguiram. O vento soprou através do meu casaco como
adagas de gelo. Depois que o carro de minha mãe sumiu de vista, Thalia
disse:
– Sua mãe é demais, Percy.
– Ela é bem legal – admiti. – Mas e você? Às vezes entra em contato com sua mãe?
Assim que disse isso me arrependi. Thalia era ótima em lançar olhares
malignos, com aquelas roupas punk que ela sempre usa – o casaco militar
rasgado, as calças de couro preto e as joias de correntes, o delineador
preto naqueles intensos olhos azuis. Mas o olhar que ela me lançou
naquela hora foi perfeitamente do mal:
– Como se isso fosse da sua conta, Percy...
– É melhor a gente entrar – interrompeu Annabeth. – Grover deve estar esperando.
Thalia olhou para o castelo e estremeceu.
– Você tem razão. Só queria saber o que ele encontrou aqui que o fez mandar o S.O.S.
Ergui os olhos para as torres escuras de Westover Hall.
– Nada de bom – presumi.
As portas de carvalho se abriram rangendo, e nós três entramos no saguão em um turbilhão de neve. Tudo o que pude dizer foi:
– Uau!
O lugar era imenso. As paredes eram forradas de estandartes de batalha e
armas em exposição: rifles antigos, machados de guerra e um monte de
outras coisas. Quer dizer, eu sabia que Westover era uma escola militar e
tudo, mas o exagero da decoração era massacrante. Literalmente.
Minha mão foi para o bolso onde eu guardava minha caneta esferográfica
letal, Contracorrente. Eu já podia sentir que havia algo de errado
naquele lugar. Algo perigoso. Thalia estava esfregando seu bracelete
prateado, seu item mágico favorito. Percebi que pensávamos na mesma
coisa. Havia uma luta pela frente.
Annabeth começou a dizer:
– Queria saber onde...
As portas se fecharam violentamente atrás de nós.
– Oops – murmurei. – Acho que vamos ficar mais um pouco.
Pude ouvir música ecoando do outro lado do saguão. Parecia dance music.
Deixamos nossas sacolas de viagem atrás de um pilar e começamos a
atravessar o saguão. Não tínhamos ido muito longe quando ouvi passos no
piso de pedra, e um homem e uma mulher marcharam saindo das sombras para
nos interceptar.
Ambos tinham cabelos grisalhos curtos e uniforme preto em estilo militar
com debruns vermelhos. A mulher tinha um bigode ralo e o homem, a cara
perfeitamente barbeada, o que me pareceu meio invertido. Os dois
caminhavam rigidamente, como se tivessem cabos de vassoura grudados com
fita adesiva nas costas.
– E então? – perguntou a mulher. – O que estão fazendo aqui?
– Ahn... – Percebi que não havia planejado nada para aquela situação.
Estava tão concentrado em chegar até Grover e descobrir o que estava
errado que não levara em consideração que alguém poderia questionar por
que três crianças estavam se esgueirando para dentro da escola no meio
da noite. Não tínhamos conversado no carro sobre como faríamos para
entrar. Eu disse:
– Madame, nós estamos só...
– Ah! – Disparou o homem, o que me fez dar um pulo. – Não são permitidos visitantes no baile. Vocês vão ser expulsos!
Ele tinha um sotaque – francês, talvez. Pronunciava o x como pixel.
Era alto, com cara de águia. Suas narinas se dilatavam quando ele
falava, o que tornava difícil não olhar para o nariz dele, e os olhos
tinham duas cores diferentes – um era castanho, e o outro, azul – como
os de um gato de rua.
Calculei que ele estava a ponto de nos atirar na neve, mas então Thalia
deu um passo à frente e fez algo muito estranho. Ela estalou os dedos. O
som foi nítido e forte. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas senti
uma lufada de vento se propagando da mão dela pelo saguão. O vento
passou por cima de todos nós e fez tremular os estandartes nas paredes.
– Ah! Mas não somos visitantes, senhor – disse Thalia. – Estudamos aqui.
O senhor lembra: eu sou Thalia. E estes são Annabeth e Percy. Estamos
na oitava série.
O professor estreitou os olhos de duas cores. Eu não sabia o que Thalia
estava pensando. Agora provavelmente seríamos castigados por mentir e também atirados na neve. Mas o homem pareceu hesitar.
Ele olhou para sua colega.
– Senhorita Tengiz, conhece estes alunos?
A despeito do perigo que corríamos, tive de morder a língua para não rir. Uma professora chamada Tem Giz? Ele devia estar brincando. A mulher piscou, como alguém que acabava de despertar de um transe.
– Eu... sim. Acho que sim, senhor. – Ela nos olhou, carrancuda.
–Annabeth. Thalia. Percy. O que vocês estão fazendo fora do ginásio?
Antes que pudéssemos responder, ouvi mais passos, e Grover veio correndo, sem fôlego.
– Vocês conseguiram! Vocês...
– O que é isso, senhor Underwood? – disse o homem. Seu tom deixou claro
que ele detestava Grover. – O que quis dizer com “conseguiram chegar”?
Estes alunos moram aqui.
Grover engoliu em seco.
– Sim, senhor. É claro, Dr. Streppe. Eu só queria dizer que estou muito
contente porque eles conseguiram... fazer o ponche para o baile! O
ponche está uma delícia. E foram eles que fizeram!
O Dr. Streppe nos fulminou com o olhar. Concluí que um dos seus olhos só
podia ser postiço. O castanho? O azul? Ele parecia querer nos atirar de
cima da torre mais alta do castelo, mas então a Srta. Tengiz disse, com
ar sonhador:
– Sim, o ponche está excelente. Agora vão andando, todos vocês. E não saiam do ginásio de novo!
Não esperamos ela falar duas vezes. Partimos com uma porção de “Sim,
senhora!” e “Sim, senhor!”, e batemos um par de continências, só porque
parecia ser a coisa certa a fazer.
Grover nos empurrou corredor abaixo na direção da música. Pude sentir os
olhos dos professores nas minhas costas, mas caminhei bem perto de
Thalia e perguntei em voz baixa:
– Como você fez aquela coisa de estalar os dedos?
– Você quer dizer a Névoa? Quíron ainda não mostrou a você como fazer isso?
Um nó incômodo se formou na minha garganta. Quíron era nosso principal
treinador no acampamento, mas ele nunca me mostrara nada como aquilo.
Por que mostrara a Thalia e não a mim?
Grover nos apressou até uma porta onde estava escrito GINÁSIO no vidro. Mesmo com minha dislexia, consegui ler aquilo.
– Essa foi por pouco! – disse Grover. – Graças aos deuses vocês chegaram!
Annabeth e Thalia abraçaram Grover. Ergui a mão e bati na dele. Foi bom
vê-lo depois de tantos meses. Ele ficara um pouco mais alto e mais
alguns fios de barba haviam nascido, mas, fora isso, sua aparência era a
mesma de sempre quando ele passava por ser humano – um boné vermelho
sobre o cabelo castanho encaracolado para esconder os chifres de bode,
jeans folgados com pés falsos para esconder as pernas peludas e os
cascos. Usava uma camiseta preta cujos dizeres levei alguns segundos
para ler. Estava escrito: WESTOVER HALL: PRAÇA. Eu não sabia muito bem
se aquilo era tipo o posto militar de Grover, ou quem sabe apenas o lema
da escola.
– Então, qual é a emergência? – Perguntei.
Grover respirou fundo.
– Eu encontrei dois.
– Dois meio-sangues? – perguntou Thalia, surpresa. – Aqui?
Grover assentiu.
Encontrar um meio-sangue já era bastante raro. Naquele ano, Quíron
pusera os sátiros para trabalhar horas extras e os enviara aos quatro
cantos do país observando os alunos da quarta à oitava séries dos
colégios em busca de possíveis recrutas. Eram tempos difíceis. Estávamos
perdendo campistas. Precisávamos de todos os novos lutadores que
pudéssemos encontrar. O problema era que não havia muitos semideuses por
aí.
– Um irmão e uma irmã – disse ele. – Têm dez e doze anos. Não sei quem
são seus pais, mas são fortes. E nosso tempo está se acabando. Eu
preciso de ajuda.
– Monstros?
– Um – Grover parecia nervoso. – Ele suspeita. Não acredito que já tenha
certeza, mas é o último dia do ano letivo. Estou certo de que não
permitirá que eles deixem a escola antes de descobrir. Pode ser nossa
última chance! Cada vez que tento chegar perto deles o monstro está
sempre lá, me impedindo. Não sei o que fazer!
Grover olhou desesperado para Thalia. Tentei não me sentir incomodado
com isso. Normalmente, Grover olhava pra mim esperando respostas, mas
Thalia tinha precedência. Não apenas porque o pai dela era Zeus. Thalia
tinha mais experiência que qualquer um de nós em combater monstros no
mundo real.
– Certo – disse ela. – Esses meio-sangues estão no baile? – Grover
assentiu. – Então vamos dançar – disse Thalia. – Quem é o monstro?
– Ah! – falou Grover olhando em volta, nervoso. – Você acabou de conhecê-lo. O vice-diretor, Dr. Streppe.
O estranho nas escolas militares é que as crianças ficam enlouquecidas
quando acontece algum evento especial e elas podem tirar o uniforme.
Acho que é porque tudo é tão rígido, o restante do tempo elas sentem que
precisam compensar ao máximo, ou coisa assim.
Havia balões pretos e vermelhos espalhados por todo o piso do ginásio, e
os caras os chutavam um na cara do outro, ou tentavam estrangular uma
ao outro com as correntes de papel crepom grudadas nas paredes. As
meninas se moviam de lá para cá amontoadas como num jogo de futebol
americano, do jeito como sempre fazem, usando montes de maquiagem,
blusas de alças finas, calças de cores berrantes e sapatos que pareciam
instrumentos de tortura. Volta e meia cercavam algum pobre coitado como
um cardume de peixes, aos gritinhos e risadinhas, e quando finalmente se
afastavam, o cara estava com fitas no cabelo e rabiscos de batom na
cara inteira. Alguns dos caras mais velhos se pareciam mais comigo –
pouco à vontade, junto às paredes do ginásio, tentando se esconder, como
se a qualquer minuto fossem ter de lutar pelas suas vidas. No meu caso,
é claro, isso era verdade...
– Lá estão eles – Grover acenou com a cabeça para duas crianças mais
novas discutindo na arquibancada. – Bianca e Nico di Angelo.
A menina usava um gorro verde frouxo, como se estivesse tentando
esconder o rosto. O menino era, obviamente, seu irmão menor. Ambos
tinham cabelo escuro e sedoso e pele morena, e usavam muito as mãos
quando falavam. O menino estava embaralhando algum tipo de figurinhas. A
irmã parecia repreendê-lo por alguma razão. Ficava olhando em volta,
como se sentisse que havia algo errado.
Annabeth disse:
– Eles já... quer dizer, você já contou a eles?
Grover sacudiu a cabeça.
– Você sabe como é. Isso poderia deixá-los ainda mais em perigo. Depois
que se dão conta de quem são, seu cheiro fica mais forte.
Ele olhou para mim e eu assenti. Na verdade, nunca entendi qual é o
“cheiro” dos meio-sangues para monstros e sátiros, mas sabia que o
cheiro pode fazê-lo ser morto. E, quanto mais a gente se torna um
semideus poderoso, mais tem cheiro de almoço de monstro.
– Então vamos pegá-los e dar o fora daqui – falei.
Dei um passo à frente, mas Thalia pôs a mão em meu ombro. O
vice-diretor, Dr. Streppe, se esgueirara por uma porta ao lado da
arquibancada e estava perto dos irmãos Di Angelo. Ele acenou friamente
com a cabeça em nossa direção. Seu olho azul parecia incandescente.
A julgar pela expressão dele, adivinhei que Streppe não se deixara
enganar pelo truque de Thalia com a Névoa, afinal. Ele suspeitava de
quem éramos. Estava apenas aguardando para ver por que estávamos ali.
– Não olhe para os irmãos – ordenou Thalia. – Temos de esperar uma
oportunidade de chegar até eles. Precisamos fingir que não estamos
interessados neles. Despistá-los.
– Como?
– Somos três meio-sangues poderosos. Nossa presença deve confundi-lo.
Misturem-se. Ajam naturalmente. Dancem um pouco. Mas fiquem de olho
naquelas crianças.
– Dançar? – perguntou Annabeth.
Thalia fez que sim. Ela prestou atenção na música e fez uma careta.
– Eca. Quem escolheu Jesse McCartney?
Grover pareceu ofendido.
– Eu.
– Ah, meus deuses, Grover! Isso é tão careta. Não dá para tocar Green Day ou coisa assim?
– Green o quê?
– Nada, não. Vamos dançar.
– Mas eu não sei dançar!
– Você consegue se eu conduzir – disse Thalia. – Vamos, garoto-bode.
Grover ganiu, e Thalia pegou a mão dele e o levou para a pista de dança. Annabeth sorriu.
– O quê? – perguntei.
– Nada. É bom ter Thalia de volta.
Annabeth havia ficado mais alta que eu desde o último verão, algo que eu
achava um pouco incômodo. Ela não costumava usar joias a não ser seu
colar de contas do Acampamento Meio-Sangue, mas agora usava pequenos
brincos em forma de coruja – o símbolo de sua mãe, Atena. Tirou o gorro
de esquiador e seus longos cabelos loiros caíram até os ombros. Por
alguma razão, aquilo a fez parecer mais velha.
– Então...? – Tentei pensar em algo para dizer. Ajam naturalmente, falara Thalia. Quando se é um meio-sangue em uma missão perigosa, que diabo significa agir naturalmente?
– Ahn, tem projetado alguns edifícios legais ultimamente?
Os olhos de Annabeth se iluminaram, como sempre acontecia quando ela falava sobre arquitetura.
– Ah, meus deuses, Percy! Na minha nova escola eu escolhi desenho em
perspectiva como matéria eletiva, e tem aquele programa de computador
muito legal que...
Ela prosseguiu explicando como projetara aquele enorme monumento que
queria construir em Manhattan, no Marco Zero, o lugar onde ficavam as
torres do World Trade Center. Falou sobre suportes estruturais, fachadas
e outras coisas, e eu tentei ouvir. Sabia que ela queria ser uma
superarquiteta quando crescesse – ela adora matemática, edifícios
históricos e tudo mais – mas eu mal entendia uma palavra do que ela
dizia. Na verdade eu estava desapontado por ouvir que ela gostava tanto
da nova escola em Nova York. Eu tinha esperança de vê-la com mais
frequência. Era um internato no Brooklyn, ela e Thalia estavam
frequentando juntas, e era bastante perto do Acampamento Meio-Sangue
para Quíron poder ajudá-las caso se metessem em alguma encrenca. Como
era uma escola só para meninas, e eu estava frequentando a MS-54 em
Manhattan, mal podia vê-las.
– É, ah, legal – disse eu. – Então você vai ficar por lá o resto do ano, ahn?
A expressão dela nublou.
– Bem, talvez, se eu não...
– Ei! – Thalia gritou para nós. Ela estava dançando lentamente com
Grover, que ficava tropeçando nas próprias pernas, chutando-a nas
canelas, parecia querer morrer. Pelo menos os pés dele eram falsos.
Diferentemente de mim, ele tinha uma desculpa para ser desajeitado.
– Dancem vocês também! – ordenou Thalia. – Parecem bobos aí parados.
Olhei nervoso para Annabeth, e então para os grupos de meninas que perambulavam pelo ginásio.
– E então? – disse Annabeth.
– Ahn, quem devo tirar para dançar?
Ela me deu um soco na barriga.
– Eu, senhor Cabeça de Alga.
– Ah! Ah, certo.
Lá fomos nós para a pista de dança, e dei uma olhada para ver como
Thalia e Grover estavam fazendo. Pus uma das mãos na cintura de Annabeth
e ela pegou a outra como se fosse me dar um golpe de judô.
– Não vou morder – disse ela. – Francamente, Percy. Vocês não têm festas na sua escola?
Não respondi. A verdade é que tínhamos. Mas eu nunca gostei; na verdade, nunca dancei. Normalmente, eu era um dos caras jogando basquete no canto.
Arrastamos os pés de um lado para o outro durante alguns minutos. Tentei
me concentrar em pequenas coisas, como as correntes de papel crepom e a
tigela de ponche – tudo menos o fato de que Annabeth era mais alta que
eu, e minhas mãos estavam suadas e provavelmente sem jeito, e eu ficava o
tempo todo pisando os pés dela.
– O que você estava dizendo antes? – perguntei. – Está com problemas na escola, ou coisa assim?
Ela contraiu os lábios.
– Não é isso. É meu pai.
– Ahn-ahn. – Eu sabia que Annabeth tinha uma relação instável com o pai.
– Achei que as coisas estavam melhorando entre vocês dois. É sua
madrasta de novo?
Annabeth suspirou.
– Ele decidiu se mudar. Justamente quando eu estava me acostumando com
Nova York ele aceitou aquele novo emprego bobo de pesquisar para um
livro sobre a Primeira Guerra Mundial. Em São Francisco.
Disse isso do mesmo jeito que eu poderia dizer Campos da Punição ou Uniforme de ginástica do Hades.
– Então ele quer que você se mude para lá com ele?
– Para o outro lado do país – disse ela em um tom infeliz. – E
meio-sangues não podem viver em São Francisco. Ele devia saber disso.
– O quê? Por que não?
Annabeth revirou os olhos. Talvez pensasse que eu estava brincando.
– Você sabe. É bem ali.
– Ah! – disse eu. Não tinha ideia do que ela estava falando, mas não queria parecer bobo.
– Então... você vai voltar a viver no acampamento ou o quê?
– É mais sério que isso, Percy. Eu... acho que devia contar uma coisa a você.
De repente ela gelou.
– Eles se foram.
– O quê?
Segui o olhar dela. A arquibancada. As duas crianças meio-sangues,
Bianca e Nico, não estavam mais lá. A porta ao lado da arquibancada
estava totalmente aberta. O Dr. Streppe não estava em lugar nenhum.
– Temos de achar Thalia e Grover! – Annabeth olhou em volta freneticamente. – Ah, para onde eles saíram dançando? Vamos!
Ela correu por entre a multidão. Eu já ia segui-la quando um bando de
meninas ficou no meu caminho. Contornei-as para evitar o tratamento de
fita e batom, e quando consegui me livrar Annabeth havia desaparecido.
Girei o corpo procurando por ela, Thalia ou Grover. Em vez disso, vi
algo que gelou meu sangue.
A cerca de quinze metros, caído no chão do ginásio, estava um gorro
verde como o que Bianca di Angelo usava. Perto dele, algumas figurinhas
espalhadas. Então vi de relance o Dr. Streppe. Saía às pressas por uma
porta do lado oposto do ginásio, levando as crianças di Angelo pelo
cangote como se fossem gatinhos. Ainda não conseguia avistar Annabeth,
mas sabia que ela estaria indo para o outro lado, à procura de Thalia e
Grover.
Quase corri atrás dela, mas então pensei: Espere.
Lembrei-me do que Thalia me dissera no saguão, olhando surpresa para mim quando perguntei sobre o truque de estalar os dedos: Quíron ainda não mostrou a você como fazer isso? Pensei no modo como Grover a olhara, esperando que ela salvasse o dia.
Não que eu estivesse ressentido com Thalia. Ela era legal. Não era culpa
dela se seu pai era Zeus e ela recebia toda a atenção... Ainda assim,
eu não precisava correr atrás dela para resolver todos os problemas.
Além disso, não dava tempo. Os di Angelo estavam em perigo. Eles
poderiam já estar desaparecidos há muito tempo quando eu conseguisse
encontrar meus amigos. Eu conhecia monstros. Era capaz de lidar com
aquilo sozinho.
Tirei Contracorrente do bolso e corri atrás do Dr. Streppe.
A porta levava a um corredor escuro. Eu ouvi sons de pés se arrastando
mais a frente, e então um doloroso grunhido. Eu desencapei
Contracorrente.
A caneta cresceu em minhas mãos até que eu estava segurando uma espada
grega de bronze com um metro de comprimento e punho envolvido em couro. A
lâmina brilhava ligeiramente, lançando uma luz dourada na fileira de
armários.
Eu corri pelo corredor, mas quando eu cheguei ao final, não havia
ninguém lá. Eu abri uma porta e me achei de volta no corredor da entrada
principal. Eu me virei completamente. Eu não via Dr. Streppe em lugar
algum, mas ali no lado oposto do ambiente estavam as crianças di Angelo.
Eles estavam paralisados em terror, olhando fixamente para mim.
Eu avancei lentamente, baixando a ponta da minha espada.
– Está tudo bem. Eu não vou machucar vocês.
Eles não responderam. Seus olhos estavam cheios de medo. O que estava
errado com eles? Onde estava o Dr. Streppe? Talvez ele tenha sentido a
presença de Contracorrente e recuado. Monstros odeiam armas de bronze
celestial.
– Meu nome é Percy – eu disse, tentando manter o nível da minha voz. – Eu vou tirar vocês daqui, levá-los para um lugar seguro.
Os olhos de Bianca se arregalaram. Ela cerrou os punhos. Só tarde demais
eu percebi o que seu olhar significava. Ela não estava com medo de mim.
Ela estava tentando me avisar.
Eu rodopiei em volta e algo fez WHIISH! Dor explodiu em meu ombro. Uma força como uma mão gigante me puxou para trás e me lançou contra a parede.
Eu golpeei com minha espada, mas não havia nada para ser atingido.
Uma risada fria ecoou pelo corredor.
– Sim, Perseu Jackson – Dr. Streppe disse. Seu sotaque deformou o J em meu sobrenome. – Eu sei quem você é.
Eu tentei libertar meu ombro. Meu casaco e camiseta estavam pregados na
parede por algum tipo de cravo – um projétil como uma adaga com trinta
centímetros de comprimento. Ela havia esfolado a pele do meu ombro
quando passou pelas minhas roupas, e o corte queimava. Eu havia sentido
algo como isso antes. Veneno.
Eu fiz força para me concentrar. Eu não iria desmaiar.
Uma silhueta escura agora se movia em nossa direção. Dr. Streppe deu um
passo para a luz fraca. Ele ainda parecia humano, mas sua face era
macabra. Ele tinha dentes perfeitamente brancos e seus olhos
castanho/azul refletiam a luz da minha espada.
– Obrigado por sair do ginásio – ele disse. – Eu odeio bailes colegiais.
Eu tentei balançar minha espada novamente, mas ele estava fora de alcance. WHIIIISH!
Um segundo projétil foi atirado de algum lugar atrás do Dr. Streppe.
Ele não pareceu se mover. Era como se alguém invisível estivesse atrás
dele, atirando facas. Perto de mim, Bianca ganiu. O segundo espinho
cravou na parede de pedra, a milímetros do seu rosto.
– Vocês três virão comigo – Dr. Streppe disse. – Silenciosamente.
Obedientemente. Se vocês fizerem um som que seja, se gritarem por ajuda
ou tentarem fugir, eu vou mostrar a vocês quão precisamente eu posso
atirar.
– Dancem vocês também! – ordenou Thalia. – Parecem bobos aí parados.
ResponderExcluirOlhei nervoso para Annabeth, e então para os grupos de meninas que perambulavam pelo ginásio.
– E então? – disse Annabeth.
– Ahn, quem devo tirar para dançar?
Ela me deu um soco na barriga.
– Eu, senhor Cabeça de Alga.
– Ah! Ah, certo.
Paciencia senhorita anabeth é com teu futuro namorado q tu ta falando
KKKKKKKKKKKKKKK
ExcluirKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluiracho q esses tio são filho de Hades ou de Eris (deusa do caos)
ResponderExcluirHades
ExcluirÉ hadez mesmo eu já terminei
ExcluirAjam naturalmente, falara Thalia. Quando se é um meio-sangue em uma missão perigosa, que diabo significa agir naturalmente?
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